alea
Alea: Estudos Neolatinos
Alea
1517-106X
1807-0299
Programa de Pos-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras -UFRJ
Abstrait
Cet article opère une relecture de l’essai d’Edouard Glissant, La Cohée du Lamentin (Poétique V, 2005), pour montrer que penser au tremblement (et non pas sur le tremblement) se rapproche des incertitudes contemporaines. Ces incertitudes sont abordées à partir de deux versants : dans leur relation avec la forme-essai (et donc avec une certaine déviation des pensées systémiques), et dans l'hypothèse qui sous-tend l'ensemble du texte, à savoir que les incertitudes sont exacerbées parce que nous traversons un moment de changement dans l'épistémè occidentale moderne.
Tudo aquilo que acontece durante esse tempo
em que se permanece sentado,
imóvel e em silêncio é meditação.
Ioga, Emmanuel Carrère
O texto-anfíbio
Este é um texto-anfíbio. Dedicado em seu princípio a repensar a ideia de um pensamento do tremor (Glissant, 2014), acabou se tornando também uma meditação sobre o ensaio. Meditar e ao mesmo tempo pensar (n)o tremor é uma combinação, no mínimo, inusitada. Aparentemente não se entrelaçam, resultando num texto-anfíbio. Isso foi o que primeiro imaginei, antes de atravessar todo o percurso, até o texto “final”.1 Não posso me adiantar. Volto, medito. E decido: siga passo a passo.
À primeira vista a constatação é a de que pensar sob o tremor indica um estado contrário ao da meditação. Mas já ao término dessa frase alguma coisa me incomoda, e começo a duvidar do que acabo de escrever. Algo abala essa certeza, fruto, talvez, de um preconceito sobre o que é meditar, e ainda mais sobre o que é pensar no tremor. Sigo a interrogação.
Releio as notas que escrevi num caderno ainda pouco usado, com libélulas na capa. Busco lembrar como me encontrava naquele momento. Já tendo passado por um e por outro acontecimento (o terremoto e a meditação), percebo que a meditação não me pareceu tão contrária ao tremor, ou como dele se apropriou Glissant. Ambos são acontecimentos através dos quais não se passa imune. Ou seja, cada um deve sobre/viver ao seu próprio terremoto e a sua própria experiência meditativa. Mas sendo matéria inusitada, como me furtar ao menos a buscar demonstrar, se possível, essa imbricação?
Ainda nesse percurso acrescenta-se um detalhe, de suma importância: a escuta atenta das falas sobre o ensaio, presentes no seminário Partilha da Incerteza2, no mesmo momento em que era acometida pela leitura do livro Ioga (Carrèrre, 2023). Sem saber que reencontraria partículas do livro no decorrer do seminário, segui ingenuamente ignorando os fios que já se teciam, entre a meditação, o tremor e o ensaio. De fato, ignorava que esse detalhe provocaria um efeito borboleta,3 afetando o que imaginei como texto original, e o que agora se me exijo repensar, enquanto escrevo este texto final. Revisitando o caminho e explicitando-o, vou adensando o emaranhado dos fios.
Fato é que só hoje percebo que tanto no livro Ioga, quanto em algumas falas sobre o ensaio que foram me atravessando subsistia um fio comum. Um fio que faz com que o ato de escrever coincida com o ato de pensar a própria escrita quando se escreve. No caso do Seminário, alguns pensavam o ensaio e para isso escreviam ensaística ou poeticamente. Citando uns aos outros, destronavam o academicismo e iniciavam uma espécie de conversa infinita entre alguns presentes. Infinita aqui quer dizer também incerta, sem resolução, mostrando o inacabamento dentro dos seus próprios textos. Já Carrère (2023) escrevia um romance biográfico, e ao mesmo tempo meditava sobre a impossibilidade de escrevê-lo. Ele não meditava apenas sobre a meditação, o que seria além de enfadonho, um pouco pobre para um romancista de seu porte. Mesmo que tenha sido essa a sua ideia original, o que não deixa de ser irônico. No fundo a sua meditação era sobre não poder escrever mais, nunca mais, era sobre a catástrofe e o colapso da vida escrita ou da escrita viva. Sua meditação era sobre morrer, ou viver enclausurado em sua própria mente. Uma espécie de morte catatônica, que não sabemos até que ponto se relaciona, ou não, com o meditar. Poucos que chegaram a esse ponto voltaram para nos contar. Não foi o caso de Carrère, que voltou, aparentemente por pouco, e com muito sofrimento. Para ele este ponto foi a coincidência do lugar em que escrever/viver era também já não poder escrever/viver, e meditar era buscar uma forma de escrita/vida que, no entanto, falhava. Estamos falando aqui de um escritor que mantém firme o pacto biográfico com o seu leitor, e sobretudo com ele mesmo.
Fato ainda mais estranho foi quando esses dois acontecimentos se juntaram: o livro Ioga e algumas das falas sobre o ensaio. Acabei sendo eu mesma empurrada para onde sequer imaginava: ter que pensar sobre aquilo que em toda a minha vida de pesquisadora havia escrito, inquirindo onde esse encontro desencontrado entre escrever e sua impossibilidade ou risco havia ocorrido. Entre escrever ou deixar de escrever porque se é acometido pela “meditação” do próprio escrever, que por si só põe todo o resto que se tenta escrever em questão, ou em suspensão.
Escrever sob o tremor
A partir de um momento preciso, esses dois gestos - escrever sobre algo e escrever sobre a própria escrita que se escreve - tornaram-se, para mim, o único modo possível de escrever.
Me dei conta de que escrevia “ensaio” ou “meditação” sem que, no entanto, tivesse destinado um tempo a pensar sobre esse modo específico (ou inespecífico) de escrita. Um modo não é um código, nem a repetição de uma forma ou de determinados recursos delimitados. Mesmo que alguns desses termos possam eventualmente se repetir num ou noutro texto. Mas neste “modo”, que pode tanto se dar num romance, como o Ioga, ou num ensaio como O pensamento do tremor (Glissant, 2014), e que por fim realizei como sendo um traço que acompanha muitos dos meus textos a partir de um momento preciso de minha trajetória, está presente a necessidade de que o escrever (independente do assunto que trate) seja também uma interrogação no/do tempo presente sobre o ato da ou daquela escrita.
Esse traço liga a escrita não apenas ao tempo presente, mas ainda a um outro tempo, próprio ao escrever, que habita normalmente os limbos da escrita. Limbo é uma palavra forte, indicando uma borda, um limiar, nasce também do espaço dos mortos que não se batizaram; desviantes na vida perambularão no limbo, sem necessariamente irem para o inferno. Já na mitologia grega o limbo era o antes do inferno. Uma espécie de lugar sem lugar, ou de lugar para os que não têm lugar. Exatamente o espaço em que toda escrita, em algum momento, habita. O que a determina neste ou naquele gênero? Qual indecisão atravessa este ato escriturário e não as suas certezas? Qual incerteza permeia a escrita desenhando as suas bordas?
Toda escrita porta o seu próprio limbo.
Se entendemos, no campo teórico-crítico, que este espaço límbico é o espaço do ensaio, ou onde esse tipo de interrogação acontece de forma mais continuada, não me parece que seja porque esta é a “essência” do ensaio. É como se, em parte, o ensaio fosse a consequência de tudo o que, no campo teórico-crítico, não tivesse encontrado lugar: o tal do limbo. Ensaio como espaço dos que não foram batizados. Neste caso, trata-se mais de uma impossibilidade da teoria ou da crítica de se desalojarem de suas certezas do que um traço essencial ao ensaio em direção aos limites das certezas. Isso se consideramos o desalojar das certezas como primeiro traço da escrita que se interroga. Mas, como sabemos, se desalojar das certezas (dentre as quais se situam as certezas teórico-críticas - as ideias dos autores que nos formaram, e ainda mais longe a própria episteme que configura o nosso mundo, logo os nossos modos de ver, pensar e dizer) é como viver um terremoto. Ficar desamparado. Perder o pai ou a mãe: as redes simbólicas de sustentação.
Neste ponto, ensaio e terremoto se encontram. Um e outro acabam fazendo um movimento espiralar, para o qual, quando nos sentamos para escrever, ou meditar, voltamos. Voltamos ao desamparo que só a incerteza nos dá. Voltamos, mas num ponto um pouco acima, mesmo que ele recorra e remeta ao ponto anterior, ao mesmo lugar: estou escrevendo sobre “isso”, mas quem sou “eu” enquanto escrevo sobre “isso”? O que ‘isso’ faz comigo e com o mundo? Por que escrever sobre “isso”? Como escrevo sobre “isso”?
A meditação não é o vazio, mas a sabedoria de que o cheio é cheio de vazio. Não é pensar sobre nada, é deixar que o nada se infiltre como uma qualidade de tudo o que pensamos. Enfim: é viver dentro e fora ao mesmo tempo, em tudo o que vivemos. É um limite, como o terremoto é o limbo que nos resta habitar.
Por tudo isso me lembro tão bem quando minha escrita crítica mudou de eixo. Foi num Simpósio na PUC-Rio em Literatura,4 no ano de 2012. Tudo desabava ao meu redor, foi um momento de grande desamparo. Fiz uma palestra dizendo que quem falava era “ela”. Porque “eu”, no caso, “a convidada”, não tinha podido comparecer. Tratei-me em terceira pessoa. E a reação do público foi impressionante, acreditaram que eu lia o texto de “outra”, e mesmo alguns que me conheciam há muito tempo. Outros nomearam: isso é uma performance!
Naquele momento, indicar o gênero do que fazia não era o mais importante. Precisava era fazer. Estar ali presente sem coincidir “comigo mesma”. Clivagem da enunciação que permitiu o exercício enunciativo. Deixei de coincidir autor com narrador no seio do pensamento crítico, procedimento natural e básico no âmbito ficcional, mas, naquele momento, na universidade brasileira, ainda estranho no seio do campo teórico-crítico. Tudo isso porque algo em mim fugia, errava, escorregava. Esse “deslize” ia entrando no texto, sem que quisesse ou pudesse controlá-lo. A errância enunciativa partia algumas das minhas certezas.
Guardo essa mudança como sendo um momento que, apesar de doloroso na vida, inaugurou um modo de fazer da palavra e do pensamento um exercício de emancipação subjetiva. Uma das bases do que se chama “escrever um ensaio”: buscar que a escrita nos mova das injunções e subalternizações que “asseguram” muitos dos assentos subjetivos no mundo. Tudo isso que parece ser uma inserção do pessoal no campo reflexivo, no meu caso começou curiosamente me extraindo de mim mesma. Foi falando como outra, que pude dizer “eu mesma penso assim”.
Por mais paradoxal que pareça, tal como a meditação e o tremor, este modo de clivagem autor/narrador no seio do pensamento crítico não apenas introduz a potência da imaginação na teoria. Ele te obriga a auscultar, de forma muito mais precisa, quem você é e quem você não é na escrita e naquilo que escreve. Ele interroga a sua localização corpóreo-discursiva.
No meu caso, hoje, isso significaria falar, mesmo que acompanhada por outros autores, mas sem me submeter a um sistema exclusivo de pensamento, que atravessamos um momento sem volta, localizado no tremor sem precedentes da episteme moderna-ocidental. E a afirmar, como mulher branca brasileira, que o Brasil nunca existirá enquanto país se não rever institucionalmente, de forma pública e envolvendo toda a sociedade, a história e os modos dos racismos que lhe constituem. Afirmar não é fácil, e acarreta, entre outras, se interrogar: o quanto ser uma mulher, uma mulher com a minha idade, ou com a minha meia idade, neste país, me obriga a ter que escrever assertivamente sobre o incerto? O quanto o ser assertivo e o “não poder brincar” é o único modo de conseguir afirmar um pensamento próprio, e “ser respeitada”? Por que tenho que ser séria e assertiva, assumindo um certo tom de voz5 para ser levada à sério? O que o mundo intelectual pensaria se rio, ou gargalho, ou brinco muito com tudo o que falo? E o que significa num contexto de enfrentamento da questão mais fundamental para o Brasil (e para o mundo) - os racismos, as subalternizações, as feminizações para descarte dos corpos (Vergès, 2020) - eu, uma mulher branca, querer ser assertiva?
Há 15 anos, desde que me tornei professora, nunca pude deixar de notar, de sofrer, e ao mesmo tempo de me sentir até certo ponto impotente face ao fato de que nesta universidade (e em quase todas as outras) aqueles que limpam os banheiros que utilizamos são pessoas negras.6
Interrogar o lugar onde estou, e por onde ando, interrogar também como cheguei aqui desalojou parte do arcabouço aprendido do pensamento que me ensinaram a pensar. Os privilégios e o racismo atravessando todos os lugares por onde passei, silêncio, as origens pobres da minha mãe, o sonho político frustrado e punido dos meus pais, a prisão, silêncio, e hoje a orfandade me levam a dizer que ainda estou aprendendo a dizer. Mas também que aprendo rápido!
Devo ainda constatar, depois dos onze anos passados da morte da minha mãe e da clivagem subjetiva que acometeu os meus textos naquele tempo que, ao menos para a minha geração, ficou muito difícil ser mulher que pensa e ser mulher. Para isso ainda ando inventando, sem aprender. Até aqui cheguei apenas a uma pequena fórmula, através da palavra que me foi oferecida pela artista Clara Moreira7, título de um dos seus desenhos em lápis sobre papel: “doçúria”. Talvez esse seja esse o modo possível quando fala a mulher das incertezas, no campo acadêmico hoje. Sei que não estou sozinha.
Foi assim, senão um terremoto, um vendaval que trouxe o ensaio como um dos modos de escrever o que penso, permitindo, no limbo de sua forma, ou em sua forma límbica escrever a “doçúria”. Foi também assim que descobri que penso muito na incerteza, mas não penso muito a incerteza. Talvez isso esteja ligado ao fato de que uma mulher sabe quanto custa pensar, e poder-dizer o que pensa. Quando ela desvenda que poder-dizer é poder, desvenda também que àqueles a quem não foi ofertado tal poder, a esses só resta a “doçúria” da coragem de tentar (com as incertezas) dizer. Há uma desconfiança que habita esse modo de tentar dizer. Desconfiança dos modos de poder. E dos modos de dizer já ditos.
Foi assim também que consegui pensar ao mesmo tempo o Brasil em sua singularidade e o mundo, ou o todo-mundo, para citar um termo do Glissant, em relação ao Brasil. Relacionando-me de forma diferente com as teorias europeias que me exigiam pensar como eles pensam o mundo, quis inserir o Brasil pensando no/o mundo. Não porque eles me exigissem, mas porque ser brasileira no exterior me exigia. Era isso ou não buscar pensar, e continuar apenas executando, apertando o parafuso da máquina do que eles dizem ser pensar.
Fui mudando minha relação com meus pais-autores: Freud, Nietzsche, Artaud, Deleuze-Guattari, Foucault. Saindo de casa, voltava para visitá-los. É um movimento de emancipação teórico-crítico. Esses gestos combinados - se emancipar da subalternização em relação ao pensamento europeu (sem deixar de amá-los, escolhê-los, frequentá-los), se descolonizar e ao mesmo tempo querer inserir o pensamento brasileiro no exterior, ou pensar o Brasil em sua relação com os processos de colonização do saber -, me obrigaram também a reler uma tradição brasileira do ensaio: Buarque de Holanda, Freyre, entre outros. Foi nesse emaranhado que pude ir derivando e nomeando uma espécie de modo de pensar e de viver que sempre me incomodou no Brasil. Para além do nosso racismo, havia algo entre o muito leve e o leviano do qual eu nunca consegui rir, ou brincar. Entendi que era um modo de apaziguar os nossos conflitos. De escamotear o que não se resolve. De não encarar frontalmente a violência que nos constitui.
De maneiras distintas tanto Buarque de Holanda (1995) quanto Freyre (2004) haviam detectado, valorizando positiva ou negativamente esse modus operandi do “ser brasileiro”. Permitindo-me identificar como o que eles enunciavam era exatamente o que me incomodava no Brasil. A passionalidade que não sabe separar público e privado (o homem cordis), o coronelismo como modo hierárquico do nosso patriarcado. Essa ideia de permeabilidade “feliz e pacífica” entre a Casa-Grande e a Senzala. Esse modo coronel na rede (esteja ele ou a rede onde estiver), que é o emblema de Freyre, foi se tornando insuportável em todos os níveis, lugares, intensidades. Com o último governo de extrema-direita - que levou ao escracho exponencial o gérmen de um modo que antes ainda se julgava esteticamente interessante (o homem-coronel na sua rede mesmo quando está no seu gabinete) - vimos publicamente o incômodo até daqueles que antes não se incomodavam. Todas as ideias de uma cultura fusional ou unida em sua diversidade ficaram impossíveis de serem sustentadas. Tudo o que já parecia terrível ficou atroz. Exatamente como o constato de que por gerações sucessivas são os negros ou pardos quem limpam os banheiros, fato que parece invisível para muitos, mas que espicaça quem vê.
Em meio a tudo isso algo delicado começou a acontecer. Passei a perceber que o meu modo de escrever e de dizer se tornava mais duro sem que assim desejasse. Para perfurar as fusões parecia que estava indicando um mundo de separações. Fui percebendo que furar a pulsão ou o desejo aglutinador das nossas contradições era como furar uma pedra. Colocar o dedo nos lugares mais incômodos. Isso porque os nossos maiores conflitos não vivem nos extremos, mas nos meandros, nos meios, nas nuances do permeável. Meu modo de escrever na incerteza acabou me exigindo indicar que algumas certezas eram necessárias. E que nem toda contradição vale a pena. Como por exemplo essa de que o melhor do Brasil reside em sua aparente felicidade oriunda da sua mais “pura” diversidade.
Foi quando veio a “doçúria” para me salvar.
Também por isso o modo ensaio é, em alguma dose, e sobretudo quando se trata da tradição brasileira, meditar, mesurar (ver em escala e em perspectiva). Mesurar e meditar são freios ao desejo de aglutinar para resolver (sem resolver). Por isso também importa tentar nomear o que não foi e não é digerível. Evitar o que se pode digerir. Evitar, em alguns casos, até mesmo comer. Meditar reencontra aqui as suas raízes ascéticas. O jejuar. Um outro modo que religue o corpo e o em torno, que não seja mastigando tudo. Um modo de reiniciar, um modo iniciático do corpo e da escrita. Recriando nuances necessárias: não se fundir e não se deixar engolir, vão virando algumas das guias deste duro caminhar.
Com Glissant aprendi que se há algo que não se funde é o opaco. Percebi a partir dos seus textos que o ensaio poderia ser um fazedor de opacidades. Que ele lambe a língua, mas sem comê-la. Que ele é disjuntivo buscando criar outro modo de fazer laço. Mas não sei se hoje é possível criar laço, ao menos não assim tão rápido quanto gostaríamos. Precisamos suportar um pouco mais os dilaceramentos dos nossos laços. No nosso caso, eles insurgiram de forma muito dura num Brasil que sempre se acreditou mais unido do que era. Aprender com o dilaceramento, aprender até que possamos nomeá-lo diferente. Quando o dilacerar virar outro verbo, nuançado as nossas divisões, talvez aí estejamos mais preparados para recolocar novos pactos de relação. Ensaiar é também isso: inventar outros nomes, verbos e sentidos.
O outro texto
O título deste artigo foi retirado de uma frase do ensaio poético (ensaio-poema?) de Edouard Glissant. Este ensaio, de título intraduzível, La cohée du Lamentin, foi publicado em 2005 pela Gallimard, e em italiano e em português do Brasil - traduzido por Elnice Alberguaria e Lucy Magalhães recebeu a alcunha de “O pensamento do tremor”, publicado em 2014 pela Editora UFJF e hoje esgotado. Esse título-frase figura aqui como um farol, que em meio ao mar revela e, ao mesmo tempo socorre as imprecisões da minha rota.
O mundo treme por toda parte indica que O pensamento do tremor pensa não a incerteza, mas na incerteza, nos preservando do pensamento de sistema e dos sistemas de pensamento (Glissant, 2014, p. 22). Pensar na incerteza se conecta, entre outras, às memórias imemoriais8 dos corpos que, para mim, só se escrevem literária, ensaística ou poeticamente: antisistemicamente. Onde o acidente e a imprecisão delimitam um modo de partilha. O limbo comum.
Mas abraçar a incerteza é também acolher a intranquilidade, o tremor, para seguirmos com esse significante. No meu caso desde muito cedo ele incide sobre o pensar e interroga sobre as incongruências da vida com o que dela dizemos, as opressões e as supressões discursivas e corpóreas, os impedimentos do dizer, o sem nome de tanta coisa que nos esforçamos para nomear. Além de pôr em xeque as certezas ele abre ao que vive ao redor - uma espécie de pressão constante que trai a palavra. O ensaio se aproxima dessa pressão, trai a palavra, trai a língua, trai a pátria.
Há no conjunto dessas questões entre incerteza, tremor e a escrita do ensaio uma certa inadequação às separações médico-legais. Quando abandonamos as separações que sustentam as certezas médico-legais navegamos do desconhecido ao que propriamente podemos chamar de incerto, qual seja: o que provoca insegurança.
De alguma forma é esse inseguro que entendo hoje estar na base de qualquer conhecimento. Mas a base não é o topo, e já sabemos como agem as linhas de poder que no topo erguem os enunciados de um campo, de uma época, de um país, de um corpo, logo de toda uma episteme. O que Glissant chamava de sistemas de pensamento e pensamento de sistema são o cerne de uma episteme. Episteme como um conjunto de enunciados que criam um regime do dizível, do visível, do compreensível numa determinada época, que pode durar muito tempo, mas pode também acabar. Uma episteme governando o sistema-mundo não é eterna. (Foucault, 2008).
Interessava a Glissant pensar escapando das garras da episteme vigente, e isso quer dizer muito mais do que escapar da racionalidade, da sintaxe clara, da lógica explicativa, muito mais do que escrever nos limites entre o poético e o crítico, o teórico e o biográfico, como se cada um desses lugares fosse seguro e certo. Isso quer dizer, a meu ver, que alguns escritos do Glissant se fazem no modo do inextricável. Inextricável do que chamamos ou identificamos separadamente como forma e conteúdo, mas também como intelectivo e intuitivo, teórico e poético, entre outros. É esse inextricável, essa trama de fios que furam a episteme que vigora. Impedindo não apenas classificações, mas também certezas. Ao menos certezas tais como aprendemos a tê-las, como algo seguro, que não treme, firme como duro, até certo ponto imutável.
Hoje vemos e sentimos com os tremores dos nossos tempos. Tempo no qual os enunciados mudam, mas ainda assim não o suficiente para nos ancorar em outras certezas, ou as certezas a que chegamos a produzir no interior dessa episteme indicam o fim delas mesmas, o seu esgotamento. Logo, somos conduzidos a uma imensa incerteza. Vemos ainda a falácia ou as grandes mentiras que construíram as verdades, ou os enunciados verdadeiros de uma episteme. Algo começa a se desmontar, e Glissant e sua geração percebem, sentem e furam esses furos, abrem fissuras nas feridas escamoteadas. Mas esse desmonte ainda hoje não fez com que algo (essa episteme) pudesse cair de todo, como por exemplo caiu, de todo, o sistema comunista soviético. Mas os furos ampliaram e a episteme vigente treme sem parar:
Como na Califórnia, também nos é atribuído, predito, reservado um desastre final. Daqui a quarenta anos, a Martinica desaparecerá num abalo sísmico sem apelação. Não paramos de ruminar isso, ou seja, não paramos de morrer por antecipação. É líquido e certo, quarenta e cinco mil caixões já estão estocados, no caso de...Medida perecível. Quem poderia ter tomado tal decisão, realizá-la? Quem a fantasiou? Saberemos perdurar ao lado de um cemitério futuro, assim virtual? Aliás, uma vez engolido o país, para que servirão esses caixões, que não serão mais que cascas submarinas arrastadas para longe de toda memória? Li essas predições num dos nossos jornais. Aterroriza-me o pensamento de que tantos outros ao meu redor as tenham lido ao mesmo tempo em que eu: não só agitamos assim o nosso tão manifesto inconsciente coletivo, mas também o publicamos e digerimos todos juntos. Um indivíduo pode tentar supor o que será o universo sem ele: mas um povo todo pensaria em faltar a si mesmo? (Glissant, 2014, p. 23).
Um povo pensaria em faltar a si mesmo? Toda a Terra se pensaria sem terra?
Como já via Glissant esses furos são também uma forma de precarização da própria episteme, tornando tudo mais delicado: como confiar nos conhecimentos que tal episteme produz se ela mesma se precarizou a esse ponto? Ou como confiar que os modos como abordamos essa precarização, como notícia de jornal a ser digerida, nos ajude a salvar o que quer que seja? O tempo em que vivemos está sendo engolido pelos próprios enunciados que agitamos e logo digerimos. O ensaio talvez seja aqui e neste exato ponto o equivalente ao que é a meditação para os orientais. A sabedoria de não se deixar levar pela enxurrada. Jejuar, ou não digerir tudo, suportar o indigerível.
Já o pensamento do tremor se mantém em suspenso, em suspensão. Ele não agita, mas é agitado. Enceta um conhecimento que funciona sob outros modos, que navega com suas próprias lacunas, abraçando angústias e incertezas. Ao ler a citação acima, não posso deixar de pensar em como nós perduramos aos cemitérios, não os futuros, mas estes de nosso brevíssimo passado, os que se ergueram no Norte do país, de novo sangrando a floresta, durante a pandemia de Covid-19 no Brasil de Bolsonaro. Fileiras incontáveis de caixões de madeiras sobre a terra devastada. Até hoje algo sem norte me habita. Sem norte, no Norte desse país, no pulmão do mundo, sem norte. Não passamos assim do ódio ao amor, nem da tristeza à alegria, apenas agitando, para misturar, para digerir.
Vejo esses furos também como rachaduras, por onde se infiltram outros enunciados - hoje ditos outras cosmologias - que haviam sido suprimidos, negados, extirpados, ou diminuídos no corpo da episteme. Os furos são também por onde vemos, e por onde emanam muitos dos horrores que ergueram a episteme moderna, a tal base soterrada: escravidão, guerra e morte. Mas nada disso seria ainda suficiente nem para construirmos outra episteme, tampouco para transformarmos o modo em que esta funciona, nem para nos ofertar uma espécie de sabedoria-conhecimento, um modo de uso de como viver desalojado, dilacerado em meio aos furos daquilo que, nós que sempre tivemos tetos, confiamos ser uma forma de vida digna.
Somos por isso levados, antes da incerteza, a suportar viver hoje com um certo gosto de indignidade pelo país que herdamos, e do que parecia ser a construção da vida. Uma certa vergonha habita para mim o pensamento crítico hoje. Como disse Frederic Gros (2021), o contrário da vergonha não é a culpa, mas a lucidez. Há algo de insuportável na lucidez teórico-critica, se olhamos para todos esses furos da base ao topo, do passado aos dias atuais.
Essa sensação de indignidade tem, ela também, um efeito dilacerante dos corpos, e logo dos nossos sistemas de crenças. Os enunciados de uma episteme chegam ao cotidiano, digamos ao vil da vida, como um sistema de crenças. Nem a todos que vivem sob os enunciados e ditames de uma episteme foi dado o poder de retraçar as suas linhas constitutivas para descrever intelectualmente os seus furos. Isso vem sendo um negócio do tal do topo, no qual só cabem alguns, espaço apertado, asfixiante. Topo que se mantém como a cabeça do dragão, mesmo quando a sua cauda foi cortada. Topo que se ergue porque se esconde, se naturaliza, se encarna, se infiltra, se banaliza, se mistura, se digere. Seria, nesse caso, a partilha da incerteza um modo de sair do topo da episteme? De fazermos de nossas vulnerabilidades um espaço em comum? Não sei, tenho dúvidas.
Abrigo-me por hora nas incertezas: para mim, uma das maiores incertezas de nosso tempo diz respeito aos efeitos disruptivos do tremor de “nossa” episteme. A tal fragilização dos ditos laços sociais, do comum, do viver junto, a irrupção do ódio, o crescimento vertiginoso e mundial da extrema-direita, a consciência - de alguns - da profundidade do racismo, do terror do patriarcado, entre outros. O que é estranho é que os enunciados que governavam os laços sociais no interior dessa episteme criaram a ilusão de que um laço era um modo de relação. O reconhecimento, a explosão, a conscientização de que o laço social não instaura um processo de relação é o grande furo, indigerível, dos nossos tempos. Fantasma das nossas maiores incertezas. O que virá daí? Mais além, a exigência, essa mais densa, que se manifesta hoje: a de que nenhuma relação é dada como à priori. O Brasil tem muito a aprender com isso. Saber disso não exclui a incerteza que vivemos face ao inevitável enfraquecimento do que nos liga. O que de fato nos liga? A pergunta deveria ser recolocada. Poderíamos dizer que antes de tudo seria a preservação da vida? Mas a vida de quem? A qual preço? Decerto muitos vão dizer que sob determinadas condições não vale preservar tal ou qual vida. Nós vimos e sabemos.
De um lado sofremos as ameaças de retorno aos “laços” totalitários. De outro o mundo treme. Difícil chamar a turma toda para um mundo que treme, e até mesmo para um pensamento do tremor. Preferem-se ainda as certezas.
Mas talvez haja aqui ainda um outro desvio, uma chance: o pensamento do tremor não é o que entendemos como pensamento. É um chamado. Chamado como quando a voz faz algo vir até nós. Logo, não estamos no registro da utopia versus a distopia do pensamento, mesmo que Glissant tenha se curvado a constante pergunta e respondido que sim, era utopia tudo o que ele escrevia. A questão não é tanto o fato de ser ou não ser utopia. É a desvalorização do lugar (sem lugar) da utopia no mundo frenético da capitalização de todos os recursos vivos e não-vivos. Se aceitarmos que esse chamado é utopia, ele já não vale nada na disputa pelos conhecimentos que buscam preservar a vida. Por isso neste ponto discordo até do Glissant: o pensamento do tremor, da relação ou do todo-mundo não é uma utopia. É um chamado como quando a voz faz algo vir até nós. É a necessidade vivida na carne de que tudo depende de tudo para sobreviver. É outra afectologia do vivo e pelo vivo. Tendo sido o único de sua geração a dar toda a ênfase ao laço, ao encontro, criando até mesmo uma nova noção de Relação, é crucial buscar entender o modo como o autor pensava a Relação face ao que a episteme moderna ocidental havia erigido como laço social.
E nesse ponto Glissant e o Brasil se aproximam. Porque entre nós pululam modos diferentes, que também como um chamado, instauram relações com e entre o vivo e o não vivo, numa sabedoria de que tudo afeta tudo. Mas o Brasil é um país muito ingrato. Com toda a sua simpatia nós não somos gratos para com o nosso. Nos despossuímos de nós mesmos. Despersonalizados, vivemos ainda o fantasma da colonização (Boulbina, 2015). O ensaio poderia ser uma tentativa torta e errática de reparar ingratidões e despossessões?
Digo isso porque nós temos aqui neste país outros vocabulários, outros enunciados e modos de fazer oriundos de outras cosmologias que podem aqui e ali recolocar diferente essas fixações nas utopias e nas distopias, criadas pelos enunciados da episteme vigente. Por isso não chamaria mais esse emprego sem emprego que determina o tempo da fabulação, da criação, do ensaio e do incerto de utopia. No caso do pensamento do tremor somos chamados a pousar nesse campo um tanto magnético, um tanto intuitivo, no qual ouvimos uma voz e há mesmo nisso uma responsabilidade. Quando se ouve uma voz ou um chamado instaura-se uma responsabilidade. Essa voz ou chamado é um modo de evocação (algo vem até nós) que perdemos como prática do conhecimento da vida no interior dessa episteme. Ou quando não perdemos a relegamos apenas ao seu uso religioso. Hoje me pergunto se todo pensamento que busca preservar o vivo, e descentrar o humano não porta algo de religioso, no sentido em que busca religar diferente todas as “coisas”. Se preservar do sistema e de um modo de racionalidade vigente não equivale a erguer um modo irracional de pensamento. O chamado, sempre da ordem do incerto, não é necessariamente ilógico. Mais próximo do intuitivo, ele requer, no entanto, um deslocamento dos modos anteriores do pensar:
É como se no mundo não houvesse mais do que três tipos de pessoas: os que decidem, os que sofrem, os que olham e esquecem. Os que sofrem, você os ignora, quase sempre. Quer dizer que não os levamos em conta, eles desaparecem sub-repticiamente nas estatísticas e na opinião geral. Mesmo quando estão diante dos meus olhos, diante dos nossos olhos, nós que vemos. Mas compartilhamos uma vantagem, por assim dizer. É que pouco a pouco começamos a considerar, a sentir, que essas situações dos povos são inextricáveis umas das outras, ou que o devir de cada pessoa não se decide mais - por mais individualistas e zelosos da liberdade-de-si que sejamos-fora de uma dinâmica desenfreada do Todo. O que chamo de mundialidade (...). Domingo 27 de abril: a ordem-desordem do inextricável. Vamos olhar a nossa volta, a terra treme por toda a parte, os vulcões se evisceram, as inundações arrasam os países, as epidemias são invencíveis, a temperatura queima (...). Resistamos ao pensamento do apocalipse. (Glissant, 2014, p. 31).
Resistamos ao pensamento do Apocalipse.
O chamado é: resistir às doutrinas do fim e ao mesmo tempo se situar em meio ao tremor máximo, às lavas dos vulcões. Como? O que Glissant chamou de mundialidade, de lugar-comum com hífen é um lugar onde um pensamento do mundo encontra outro pensamento do mundo. Com isso ele indica que não se pode mais pensar a não ser no inextricável. Neste enunciado somos desafiados a conhecermos quem somos, e ao mesmo tempo conhecermos tudo o que não somos, na mesma medida. Não se trata de empatia, muito menos de solidariedade, a meu ver, insuficientes.
Mas que modo de conhecer é esse do inextricável e do tremor, que se dá justamente nos furos e na vertigem de tudo o que tínhamos entendido e aprendido ser o conhecer? O que acontece nesse deslocamento da episteme, quando ouvimos o tal chamado e decidimos dar-lhe crédito?
Num primeiro momento, a meu ver, acontece de vivermos em meio a muitos intraduzíveis. Aliás, não há partilha de incertezas sem produção de intraduzíveis. Mas intraduzíveis não são indizíveis.9 Nesse ponto de passagem, ou de lugar-comum, o que se produz é uma camada de opacidade. É ela, a opacidade, que permite essa conexão entre todos os pontos, esse inextricável, esse chamado. Isso porque a opacidade está para além da lógica da diferença. Ela seria o outro passo, ainda necessário. A lógica da diferença - que pareceu garantir até hoje o contrato mais democrático da nossa existência comum - ainda porta, como disse Glissant (2021, p. 140-149), um algo ou alguém que é decifrável ou transparente segundo a lógica de um outro alguém. Aqui, a opacidade das coisas é o que deveria garantir toda e qualquer existência. E não a nossa capacidade em decifrá-las. Vivendo com intraduzíveis, somos chamados a traduzir no inextricável. Exercendo, de algum modo, o direito à partilha da incerteza. Criando, na opacidade, outro modo de fazer laço.
Opacidade não é hermetismo, na mesma medida em que a incerteza não depende do ilógico ou do irracional. Opacidade é o abandono do direito de decifrar o outro, de torná-lo transparente aos meus olhos (i.e. segundo os meus códigos). Ver com lentes opacas já não seria o que entendemos ser a visão. Já não seria conhecer como conhecemos.
É um pouco assim que funciona o pensamento do tremor, ele não apenas desaloja as certezas, ele nos convoca a criar outras conexões entre tudo e todos, até mesmo entre certeza e certeza, certeza e incerteza, incerteza e incerteza. Há um resíduo de mágico, quiçá de religioso, no sentido de religare, em toda essa poética ensaística da Relação. A positividade do tremor, para usar um termo caro a nossa episteme combalida, me permite olhar de novo lá atrás e rever aquele corpo franzino e angustiado, se debatendo de raiva ou de medo, já não mais dentro da transparência que decifrou e catalogou mulheres, úteros, histéricas, transes, não civilizados, animalescos, animais, canibais, orixás entre outros. É quando uma parte de mim que ainda treme agradece.
Referências:
BOULBINA, Seloua Luste. L’Afrique et ses fantômes - écrire après. Paris: Présences Africaines, 2015.
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Seloua Luste
L’Afrique et ses fantômes - écrire après
Paris
Présences Africaines
2015
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
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CARRÈRE, Emmanuel. Ioga. Tradução de Mariana Delfini. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2023.
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CARSON, Anne. O gênero do som. Tradução de Marilia Garcia. Revista Serrote, n. 34, 2020.
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FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução de Baeta Neves. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
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FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. São Paulo: Global, 2004.
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GLISSANT, Edouard. Poética da relação. Tradução de Eduardo Jorge e Marcela Levi. Rio de Janeiro, Bazar do tempo, 2021. p.140-149.
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GLISSANT, Edouard. O pensamento do tremor. Tradução de Elnice Alberguaria e Lucy Magalhães. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2014.
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GROS, Frédéric. La honte est un sentiment révolutionnaire. Paris: Albin Michel, 2021.
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KIFFER, Ana. Sobre limites e corpos extremos. In: SCHOLLHAMMER, Karl Erik; OLINTO, Heidrun Krieger (org.). Literatura e criatividade. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012. p. 22-31.
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KIFFER, Ana. O canto dela. São Paulo: Editora Patuá, 2021.
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SAMOYAULT, Tiphaine. Traduction et violence. Paris: Seuil, 2020. p. 71.
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VERGÈS, Françoise. Une théorie féministe de la violence - pour une politique antiraciste de la protection. Paris: La Fabrique, 2020.
VERGÈS
Françoise
Une théorie féministe de la violence - pour une politique antiraciste de la protection
Paris
La Fabrique
2020
1
A meu ver a ideia de ensaio e a de um texto final se atritam constantemente. Disso resulta uma atenção ao processo, e o desejo de compartilhar com o leitor os meandros que foram construindo o espaço aberto do e pelo texto
2
Esse seminário aconteceu na PUC-Rio em meados de 2023. O início dessa reflexão se iniciou nesse contexto.
3
Frase atrelada às ideias da Teoria do Caos de Ilya Prigogine, a qual esteve na base de construção do pensamento ensaístico de Glissant sobre os processos de composição da crioulização e da Relação.
4
Ver: Kiffer (2012, p. 22-31).
5
Ver: Carson, Anne (2020).
6
No romance O canto dela (Kiffer, 2021) há toda uma linha narrativa e estruturante, materializada através do personagem Ezequiel, que se estrutura a partir do constato e da convivência com esse “impossível”.
7
Ver: https://www.premiopipa.com/clara-moreira/
8
Imemoriais porque ancestrais, porque não escritas, apagadas e silenciadas.
9
“As obras ditas intraduzíveis são, ao contrário, as mais traduzidas, as que chamam pela tradução e a rendem possível.” (Samoyault, 2020, p.71)
Parecer Final dos Editores Ana Maria Lisboa de Mello, Elena Cristina Palmero González, Rafael Gutierrez Giraldo e Rodrigo Labriola, aprovamos a versão final deste texto para sua publicação.
Authorship
Ana Kiffer
Concepção, projeto, pesquisa bibliográfica, análise e interpretação dos dados
Redação e revisão do manuscrito
Aprovação da versão final do manuscrito para publicação
Responsabilidade por todos os aspectos do trabalho e garantia pela exatidão e integridade de qualquer parte da obra
Ana Kiffer
Escritora, Professora do Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio desde 2005, é Cientista do Estado-FAPERJ e Bolsista do CNPq. Foi curadora convidada pela 34 Bienal de SP propondo o enunciado Corte/Relação: Edouard Glissant e Antonin Artaud, integra o Comitê Científico da Glissant Art Fondation, especialista também na obra de Antonin Artaud, suas pesquisas versam há vinte anos no escopo da memória dos corpos, dos afetos e escritas liminares (cadernos, cartas, experiências limites - prisão, asilo psiquiátrico, entre outros) que lhe levaram a empreender, mais recentemente, uma releitura da noção de Relação a partir de Glissant. Possui livros no Brasil e no exterior e inúmeros artigos em Revistas qualificadas
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