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Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica
Ágora (Rio J.)
1516-1498
1809-4414
Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Abstract:
The relationship between Lacan and the formalization of psychoanalytic metapsychology has always been complex, composing a multifaceted topological space. Indeed, this relationship is not only a remarkable issue of Lacan’s teaching, but it has also been an impasse that remains present within the current psychoanalytic thought, precisely for imposing the continuity of its thinking. An impasse, nonetheless, that can be unraveled via two problems: limit and transmission, derived from Lacan’s original formulation of the Real as the Impossible.
UM PROBLEMA PROPRIAMENTE PSICANALÍTICO
Um impasse central no pensamento psicanalítico, legado e trabalhado extensivamente por Lacan, está na formalização da sua metapsicologia, a construção de um sistema formal capaz de se ater ao ideal científico de formalização matemática, com a ressalva de que a coisa analítica deve ser capaz não só de pensar a estrutura em sua realidade possível, mas também a impossibilidade que é o real. Acreditamos se tratar de um impasse propriamente psicanalítico, porquanto, para além da centralidade desse problema no ensino de Lacan, tal impasse articula a relação borromeana entre clínica, teoria e instituição, conectando a dimensão do ensino e da formação de analistas com caráter propriamente genérico do procedimento analítico (Tupinambá, 2021).
Destarte, nossa intenção, por este escrito, é a de buscar rascunhar alguns dos contornos do modo como esse impasse central para a psicanálise se apresenta ao francês. Uma ciência do real, como sugere Lacan (2003d), é o que a prática analítica deve ser capaz de formular, ciência esta capaz de trabalhar pelo ponto impossível que, ao mesmo tempo, liga e disjunta os discursos científico e psicanalítico. Efetivamente, é possível resumir a questão da seguinte forma: se, para Lacan, a psicanálise deve ser fiel ao que o discurso científico articula, esse impossível que essa mesma ciência não é capaz de pensar, o que se implica, então, em levar adiante esse ideal científico com todo seu rigor formalista?
Ciência e Verdade: o impasse
Em primeiro lugar, acreditamos ser possível pensar o texto de Lacan que fecha seus Escritos (1998c) - Ciência e Verdade -, como um momento em que esse problema é formulado, ainda que não de modo explícito. O que aqui intentamos, desse modo, é uma (re)leitura centrada no impasse entre o ideal formalista encontrado na ciência, ao qual Lacan busca se manter fiel, e o real próprio à coisa analítica, aquilo que resiste à simbolização e impõe o esforço de pensar o que a metodologia científica não teria sido capaz até então. Um retorno a esse écrit, por conseguinte, é o que, primeiro, propomos, para então destrinchar o impasse central tratado neste texto.
De certo modo, é possível resumir o ponto central da crítica lacaniana apresentada em Ciência e Verdade da seguinte maneira: a ciência “[...] da verdade como causa [...] nada-quer-saber” (Lacan, 1998c, p. 889), pois se trata do seu sujeito, o qual ela sutura, em seu ímpeto de excluir do pensamento toda referência à subjetividade. É certo que, para Lacan (1998c), não se trata de pensar a subjetividade a partir do ideal humanista, o ser humano como substância plena consciente-de-si. Pelo contrário, o psicanalista reconhece a capacidade do discurso científico de liquidar com essa imagem, em favor da relação estrutural que marca a subjetividade contemporânea. Para Lacan (1998c), o sujeito que a ciência busca negar é, antes, a verdade enunciada no cogito cartesiano, o sujeito do saber científico, sujeito do inconsciente (Milner, 2020) cindido entre o enunciado que o representa - o famoso eu penso de Descartes - e a enunciação insubstancial que só existe como um pensar sem qualidades - a magnitude negativa nunca redutível ao enunciado (Lacan, 1985a).
A relação cindida entre sujeito e significante, assim, pode ser visualizada por meio de uma das mais famosas tentativas de Lacan de formalizar a relação do sujeito com o significante:
Fonte: adaptado de Lacan (1992).
Nela, a barra saussuriana aparece como cisão, para sempre separando sujeito e significante, a própria relação incomensurável também percebida quando consideramos a metáfora lacaniana (Lacan, 1985a) do 0 como marca do sujeito, de tal modo que, dessa divisão, nunca pode ser derivado um resultado possível, somente um produto incomensurável. Isto é, o sujeito nunca pode ser reduzido a um significante, visto que ele só pode entrar em relação com a cadeia de significação como representado por um significante para outro significante (Lacan, 1985a). Simultaneamente, é possível visualizar, por esse mesmo esquema, a incompletude da cadeia de significação, pois o significante (S2) só ganha seu significado por meio dessa relação com outro significante (S1), um que retroativamente lhe concede sentido. Como sugere Lacan (1967, p. 38), por sua releitura do dito de Descartes, “onde eu sou, eu não penso, onde penso, não sou”, pois esse sujeito, uma vez representado, já não pensa, visto que já se determina, já sabe o que é, e pensa exatamente no ponto de cogitação, ponto em que ainda não assume a consistência do enunciado, como pensar que se compõe com aquilo que pensa em seu (não)lugar - o inconsciente, como forma de seu pensamento.
Desse modo, quando, em Ciência e Verdade (1998c), Lacan propõe que a ciência foraclui seu sujeito, sua intenção é pontuar como o discurso científico nega esse sujeito correlato e indissociável de seu saber, sua verdade, a qual retorna como disrupção impensável a seu discurso (Johnston, 2013). Novamente, para Lacan (1998c), o sujeito sob o qual opera a psicanálise é o sujeito da ciência, sujeito cindido e, tal como o objeto a a ele correlato, sempre em excesso e falta do significante que o determina.
Sendo assim, ao afirmar que a psicanálise reinsere, no discurso científico, o Nome-do-Pai, Lacan (1998c) intenciona pensar a verdade que a ciência ignora, pensar o real impossível imanente ao discurso científico; isto é, trata-se, para Lacan (1977), de destrinchar a dependência desse discurso na fantasia da relação sexual que vela sua impotência estrutural. Ou seja, se a ciência foraclui o sujeito precisamente ao (tentar) suturar sua cisão, logo, ela tampouco pode pensar o real, exatamente por este registro se atar, em sua impossibilidade, com a verdade do sujeito.
Certamente, a questão da foraclusão do sujeito pode ser lida de diferentes formas (a desconsideração ideológica da subjetividade e o desejo de todo-saber que foraclui o sujeito como ponto de interrupção do saber são algumas das outras leituras possíveis). Contudo, nossa intenção aqui é analisar um problema que se interpõe a Lacan, o qual ele não abandona: como, então, formalizar a psicanálise, se a ciência não pode pensar o real como impossível precisamente por colocar, para a si, a tarefa impossível de suturar seu sujeito? Trata-se, assim, de uma pergunta articulada em dois tempos: primeiro, porque a psicanálise deve se ater ao ideal formalista da ciência, visto que esta não pode pensar seu sujeito? Segundo: se a formalização permanece um ideal para a psicanálise, porque, mesmo para a prática que pensa o sujeito, tal movimento permanece um impasse?
Ciência moderna e formalização
De modo a responder à primeira questão, cabe contextualizar o que se entende por “formalizar”, em especial porque este é um ideal da ciência. De fato, trata-se de uma questão central para Lacan (1998c), pois vai no cerne do que o psicanalista entende por “ciência”, bem como os limites de tal discurso em relação ao que lhe escapa. Tal leitura, no entanto, impõe um diálogo cruzado com a epistemologia da ciência de Alexandre Koyré, o homem que, segundo Lacan (1998c), permanece nosso guia.
Koyré (2006) propõe, como fundamento da ciência moderna, o corte epistemológico realizado por Galileu, a partir do qual a base para o saber científico tornava-se a capacidade de matematização do empírico, de se fundar e justificar um saber acerca do mundo por meio de formalismos matemáticos. Não mais se trata, então, da velha épisteme de um mundo fechado, divino, mas, sim, do universo infinito, coextensivo com essa nova racionalidade para a qual não há objeto interditado, nem mesmo por Deus.
Lacan, assim, assume a doutrina da ciência de Koyré de dois modos: por meio da tese formalista da ciência e, ainda mais importante, por meio da proposição, retirada da leitura cruzada entre Koyré e Descartes, de uma mudança completa do que se entende por racionalidade a partir desse corte, a formulação do cogito como sujeito da ciência, a verdade “[...] que o nascimento da ciência moderna força sobre o pensamento” (Milner, 2020, p. 22, tradução nossa). De fato, como fizemos notar acima, a tese do sujeito da ciência é essencial para Lacan (1985a), o centro axial - advindo da revolução galileana -, articulação à qual a psicanálise deve se manter fiel. Não obstante, é igualmente importante a tese formalista, a noção de que o discurso científico se articula a partir da letra matemática, em oposição à ingenuidade sens-ível. Assim, para Lacan, é ao rigor formal do discurso científico que a psicanálise, também, deve permanecer fiel, em especial por se tratar de um movimento em direção ao real.
Como sugere Jean Claude Milner (2020), ao assumir a tese de Koyré, Lacan defende um tipo específico de literalização, a matematização, por ver nela não só o rigor e a precisão necessários à formulação de hipóteses, como também o movimento em direção à captura do que se implica pelo real - nas palavras de Miner (2020, p. 35, tradução nossa), “a ciência moderna, na medida que é literal, dissolve o imaginário”. O ideal formalista de Lacan, de fato, pode ser notado desde o início de sua obra pelas suas reiteradas tentativas de modelar a experiência analítica por meio dos diversos modelos científicos disponíveis (Tupinambá, 2021). No entanto, tal como apontamos anteriormente, após Ciência e Verdade, apresenta-se ao psicanalista o desafio de pensar que a orientação em direção ao real da ciência não pode ser realizada pela adoção ingênua de seus sistemas formais.
Formalizar, desse modo, deve ser lido por meio dessa injunção de Lacan com Koyré sobre o que passa a contar como real a partir do nascimento da ciência moderna - elaboração de um novo discurso, centrado na capacidade literal das letras matemáticas de capturarem a totalidade do universo, extirpando do saber o erro da ingenuidade sensível e a inacessibilidade do divino (Milner, 2020). Ciência que, então, guia-se pela máxima galileana de uma construção matemática do universo, de demonstrações precisas e claras acerca da validade de suas proposições. Para qualquer teoria científica, este se torna o ideal a ser alcançado, sinônimo de um rigor absoluto no tratamento de seu objeto. Lacan, conquanto não assuma os pressupostos da ciência de modo ingênuo, permanece fiel a esse rigor próprio da ciência moderna, essa capacidade produtiva e subversiva que o discurso científico lança como parâmetro de um pensar. Ou, nas palavras do próprio Lacan (1985, p. 161): “a formalização matemática é nosso fim, nosso ideal. Por quê? Porque só ela é matema, quer dizer, capaz de transmitir integralmente.”
Assim sendo, Lacan ainda se move pela ideia matemática, mas agora com o problema de pensar a formalização para além da consistência absoluta que sutura o impossível a ela imanente. O que se articula pelo projeto formalista, desse modo, é um duplo impasse, um problema que aqui gostaríamos de destrinchar em dois pontos inapartáveis: o limite e a transmissão.
O problema do limite
Lacan (1985, p. 127; 2008, p. 165) definirá o real como aquilo que “não para de não se escrever”, “o real como o impossível”, precisamente por se tratar da própria impossibilidade imanente a todo sistema de escrita, o ponto final ausente de uma sintaxe, portanto, aquilo que, de fato, por sua própria ausência, não cessa de não se escrever. De outro modo, Lacan (1985) introduz na lógica a necessidade de sua contingência, a imanência de uma inconsistência fundamental que se articula como impossibilidade, necessidade esta que ele localiza por meio da cisão entre enunciado e enunciação que faz vacilar a determinação plena entre dois significantes. Desse modo, para Lacan, falar do real (como sugerem suas referências aos teoremas da incompletude de Gödel [Lacan, 1998c]), implica pontuar a existência do furo que curva e compõe toda significação, curvatura essa impossível de ser significada, mas constituída e constitutiva da lógica simbólica. Efetivamente, “esse real de que estou falando, o discurso analítico, é a conta certa para nos lembrar que o acesso a ele é o simbólico. Não acessamos o referido real senão no e através do impossível que somente o simbólico define” (Lacan, 2012, p. 136, grifo nosso).
Como já exposto, o sujeito lacaniano sustenta-se como dividido, a Spaltung que não implica nem o um, ou o dois, mas, sim, os três registros do imaginário, simbólico e real, atados na relação fundamental entre o sujeito e seu objeto causa de desejo. Por isso, para Lacan (1998b), pensar a verdade de todo sistema simbólico implica pensar o sujeito do inconsciente, sujeito cindido no ponto de articulação dessa incompletude, esse furo, que marca o simbólico em sua realidade estrutural.
A releitura lacaniana da barra saussuriana que marca o signo, propõe, portanto, demonstrar a incomensurabilidade própria ao simbólico, o furo cujo nome é o real como impossível, não se tratando da ausência de palavras, mas, sim, da própria impossibilidade de completude da lógica que as organiza. Nas palavras de Lacan (2003d, p. 449) “[...] é pela lógica que esse discurso [o psicanalítico] toca o real, ao reencontrá-lo como impossível, donde é desse discurso que a eleva a sua potência extrema: ciência, disse eu, do real.”
Contudo, em medida igualmente importante, o real deve ser pensado na sua relação com o Gozo, o outro lado dessa impossibilidade própria à coisa analítica, ao redor da qual circula a satisfação pulsional do sujeito. O real, assim, está associado a essa dimensão da satisfação própria da pulsão de morte, enquanto dupla relação entre sujeito e o objeto causa de seu desejo, o objeto a que articula a dimensão da satisfação e do impossível de completude implicada pelo ser falante, a impossibilidade que marca a inexistência da relação sexual entre seres sexuados, singular e recalcitrante, novamente, por se situar na ausência irredutível a qualquer significante. O real como impossível, portanto, repete-se como relação incomensurável que cinde o ser sexuado, o corte entre a satisfação construída com o Outro - a circulação do objeto de gozo pela fantasia que compõe a perda e a magnitude negativa que marca a pulsão -, o caráter sempre residual do pequeno a. Para Lacan, então, uma dimensão essencial da análise está na articulação dessa singularidade subjetiva pela qual torna-se possível pensar a universalidade do sofrimento, a singularidade do Gozo que faz mancar as estruturas, em que, na sua (não)relação com o outro, o sujeito acede a modos de satisfação em que há sempre algo de singular, contornando essa própria impossibilidade.
Todavia, se o registro do real está indissociavelmente ligado ao nonsense, ao ponto de aniquilação de todo sentido, como aquilo que perturba todo fechamento simbólico-imaginário, singularidade do que se implica como Gozo impossível, isto é, se o real é aquilo que aparece como impossibilidade, como pode um sistema simbólico o escrever? Ou seja, como formalizar aquilo que em um sistema simbólico, seja qual for, só apareceria como interrupção, inconsistência, impossibilidade? Mais ainda, se a dimensão do sentido [sens] inevitavelmente se ata à fantasia e ao imaginário, como formalizar sem, com isso, cair na armadilha que acaba por velar o real, a redução da inconsistência lógico-estrutural ao sentido determinado pela estrutura? O problema de Lacan, desse modo, está em como evitar que um sistema simbólico, destinado a formalizar os conceitos psicanalíticos, reduza o real como impossível ao possível do sentido, do significado, da consistência, ao mesmo tempo que opere com esse furo, transmita-o, enquanto impossibilidade.
Por meio desse problema, de fato, vemos se repetir o impasse kantiano do conhecimento, o limite que o filósofo institui na primeira crítica entre fenomênico e o noumênico, com o tom próprio que Lacan dá à questão: não se trata da coisa em-si inacessível à cognição kantiana1, mas, sim, da coisa, a coisa que não se apresenta em-si senão como perda, por ser o impossível que não cessa de não se escrever. Isto é, enquanto, para Kant (2014), a noumena se refere à coisa para além da mediação cognitiva, a coisa em sua pura objetividade em-si, o real lacaniano é sempre o impossível imanente à cisão subjetiva, um furo no saber derivado não da pura materialidade não subjetiva, mas da incompletude imanente a qualquer lógica pela qual se pode falar o sujeito. O ponto de contato, portanto, está no limite, como na experiência o furo sempre aparece como negativo - a ausência da possibilidade de conhecimento direto do objeto devido ao caráter a priori da razão, no caso kantiano, a ausência do próprio objeto que faria o Um, não por uma materialidade substancial, mas pelo caráter êxtimo do sujeito enquanto ser-falante.
O saber, por conseguinte, permanece cortado por sua impossibilidade constitutiva; porém, o estatuto e o que se traça devido a essa impossibilidade não poderia ser mais distinto entre ambos os pensadores: conquanto, para Kant (2014), isso aponte para o caráter interditado do objeto, para Lacan, o objeto a apresenta a realidade mais própria do sujeito. Desse modo, diferentemente de Kant, a intenção de Lacan (2003d) é pensar o real (em especial porque, pela pulsão, o sujeito transforma esse próprio limite em meio de satisfação): o impossível imanente ao limite indica o ponto de aparição do sujeito em sua verdade. A pergunta, portanto, não é se o real pode ser pensado, mas, sim, como pensar formalmente o real (Lacan, 2003c): como pensar consistentemente a impossibilidade própria a todo sistema consistente de simbolização?
Há, assim, um movimento hegeliano (Zizek, 2011), em que, ao traçar o limite, já se define, ainda que como negativo, aquilo que se encontra para além do limite. De fato, pela linguística estrutural, já é possível pensar o real, na medida em que ele é o furo, a causa ausente própria do inconsciente. No entanto, o pensamento do real é, ali, localizado pela sua lógica própria da aparição negativa, capturado pelo caráter poético da palavra; a questão torna-se, nesse ponto, o pensamento desse real não só por seu caráter recalcitrante (pela “impotência da palavra” [Tupinambá, 2021, p. 155]), mas em seu vínculo estrutural, como realidade imanente constitutiva da lógica. De fato, impõe-se, ao pensar a articulação entre a estrutura e a sua impossibilidade, a construção de uma ciência do real, um pensamento rigoroso para além da linguagem comum, precisamente por ser o único capaz de articular a necessidade lógica da impossibilidade, por ser o único capaz de demonstrar “[…] que o nome do sujeito é isto, falta o Um para designá-lo” (Lacan, 1965, p. 36, tradução nossa). Ou seja, como propõe Lacan acerca dos ensinamentos centrais para a formação do psicanalista (2003a, p. 317), “[a] Lógica [...]. Sob a condição de que se acentue ser ela uma ciência do real por permitir o acesso à modalidade do impossível”.
De outro modo, é possível reler o problema pela ótica badiouana: como pensar o real não só por meio do meio-dizer [mi-dire] lacaniano, da equivocidade poética, mas também pelo mesmo tratamento conceitual das ciências - a formalização matemática desse real enquanto objeto que cabe à psicanálise? Badiou (2017) define a filosofia como um discurso impuro, precisamente por estar atravessada por duas formas de discursividade pelas quais pensa, compossivelmente, as verdades produzidas: a linguagem matemática e a poética. A matemática, com sua formalização, pensaria na universalidade demonstrativa, “o puro poder da letra” na produção de verdades; enquanto a poesia, com sua capacidade de ir aos limites de uma linguagem, pensaria o impossível de um dizer, “o puro poder da imagem metafórica” que captura a vida própria do aparecimento. (Badiou, 2017). Em certo sentido, vemos Lacan cortado por esse mesmo impasse quando se trata do discurso analítico, um discurso impuro, por sua dupla intenção de pensar o impossível e com ele produzir, com todo o rigor possível, a sua composição essencial. Pensar o real, com toda a implicação da vida subjetiva que a ele se prende, de fato, sempre foi a intenção de Lacan; a poesia grandiosa de seus textos trabalhando nesse limite, forçando o francês a dizer o impossível, ao lado do rigor matemático da formalização, a ciência do real com sua escrita própria.
Nesse sentido, é preciso pensar o movimento de Lacan em direção às matemáticas não apenas como uma forma de obscurantismo ou um golpe de charlatanismo (Glynos; Stavrakakis, 2002), mas, sim, como parte integral de seu estilo. O estilo de Lacan não é só o caráter tortuoso, pleno de ambiguidades, poético, tão característico dos Escritos, mas também as suas reiteradas e produtivas tentativas de formalização. Não é de estranhar, portanto, o interesse do psicanalista pelas geometrias não euclidianas, as lógicas não clássicas, as matemáticas com suas letrinhas capazes de operar na ausência qualquer sentido, maneiras pelas quais a relação entre simbólico, imaginário e real poderia ser demonstrada para além da forma poética.
Com as tentativas de formalização de Lacan, portanto, trata-se de pensar uma conceitualização psicanalítica pela qual se torna possível pensar esse real, esse impossível com o qual se torna possível operar para além da singularidade dos casos clínicos, ou seja, uma teoria capaz de formalizar algo da singularidade de uma análise. Claro, é preciso lembrar que Lacan (2003b) dirá que tal projeto formalista falha; porém, talvez seja importante pensar que ele falha não porque não é possível, mas, pelo contrário, por só ser possível como um movimento para além de Lacan, como um pensamento propriamente psicanalítico. De fato, ao tratar na lógica do não-Todo, o veredito final de Lacan (1985b) acerca da ciência do real é o de sua interdição. É impossível tratar consistentemente do não-Todo por este implicar a infinitude (“o Gozo feminino”), impossibilidade por se tratar de um limite absoluto ao ser falante, o objeto a como a inconsistência não-formalizável de qualquer lógica ou formalismo (nas palavras de Lacan [1985b, p. 159] “o truque analítico não será matemático”), pois sua formalização implicaria o fora-absoluto da linguagem. No entanto, tal conclusão talvez dependa, antes, de um compromisso, não necessário, do modelo lacaniano com certo modo de pensar a inconsistência e a função de um formalismo - o pressuposto de que toda formalização está, ao final, sob domínio da função fálica2 (Tupinambá, 2021).
Nesse ponto, é necessário, para entender as proféticas palavras do francês, notar o outro lado envolvido no programa do matema, pois não basta apenas pensar o real, é necessário também, talvez até mais importante, transmitir, com toda sua força, esse pensar.
O problema da transmissão
Em Psicologia das massas e análise do Eu (2011), Freud propõe uma dupla articulação no que compete os grupos organizados artificiais, ao mesmo tempo um alerta e uma análise: do lado analítico, a decomposição do componente fundamental dos laços grupais, para Freud (2011) a substituição do eu ideal do sujeito por um objeto comum da massa, processo pelo qual se produz um Ideal do Eu, uma identificação ao redor da qual o grupo se organiza libidinalmente; do lado do alerta, a preocupação central de se evitar que o mesmo destino identificatório aos quais sucumbem grupos organizados torne-se destino de outros tipos de formação grupal. Tal movimento é assumido a sério por Lacan (1998a) que, anos mais tarde, leria a situação das escolas psicanalíticas à luz do quadro freudiano. Para Lacan (2003d), portanto, não se trata, pela formalização, somente de pensar rigorosamente aquilo que está no limite da linguagem, mas, talvez até mais importante, de evitar o destino trágico das escolas de psicanálise de seu tempo.
Nesse ponto, propomos pensar rapidamente o outro lado da intenção matema-tica de Lacan, o lado da transmissão. Podemos, assim, formular a questão da seguinte forma: como transmitir o saber psicanalítico sem a pressuposição do mestre para guiar seu uso e seu entendimento? Ou, ainda, escrevendo a questão como Lacan (1992) talvez desejasse: como fazer o saber funcionar no lugar da verdade, instituir um discurso do analista, o único avesso à figura do mestre, o único pelo qual a transmissão desarticula-se da fantasia?
A teoria dos quatro discursos, proposta por Lacan (1992) durante o conturbado ano de 1969, talvez se apresente como ponto em que essa questão é colocada de modo mais claro: o problema do laço analítico como central na construção dos seus quadrúpedes. O matema, um projeto sempre presente no horizonte lacaniano, viria a constituir a linguagem oficial do discurso do analista, o sistema formal capaz de assegurar a persistência de seu laço. Um laço no qual o agente é o objeto a, precisamente um objeto incapturável por qualquer fantasia, até mesmo aquela suscitada pelo nome de Lacan. Nesse mesmo seminário, ao discutir a citação, Lacan (1992) menciona que citar um autor, como modo de legitimar um saber, já é convocar um mestre, propondo o meio-dizer da citação na prática analítica com a função de promover o corte entre S2 e o S1 que lhe dá lugar. Ora, não nos parece que Lacan (1992) falava somente de Marx ou Freud quando o problema da citação era assim colocado - seu próprio nome, por certo, ali participava do impasse.
Como sugerido anteriormente, o estilo de Lacan não é barroco à toa; sua tortuosidade tem uma função pedagógica dupla: (I) de marcar o que se implica pela posição de analista - que este não deve interpretar rápido demais, tampouco se guiar pelo que presume ser correto -, como também (II) evitar que se retire de um texto o sentido final, a palavra última que o mestre Lacan teria legado como resposta. Assim, nos escritos, seminários e conferências de Lacan, atada à intenção evocativa - que visa possibilitar à verdade falar (Lacan, 1998c) - há uma intenção protréptica (Milner, 2020), centrada na questão do ensino. Normalmente, na obra do francês, ambas intenções assumem a forma poética, o meio-dizer que, por sua capacidade de desobjetificação (Badiou, 2022), abre espaço para a aparição do impossível. Porém, não se trata da única forma existente na extensa obra do francês, algo que se ataria necessariamente à transmissão do impossível, pois, junto ao meio-dizer, encontramos, também, a forma do matema, não só o projeto explicitado por Lacan (2003d), mas todos os experimentos de formalização intentados pelo psicanalista. Isto é, tal como o discurso filosófico, para Badiou (2017) cindido entre poema e matema, vemos Lacan, ao longo de seu ensino, cindido entre a ideia poética e a matemática como modo de evitar o destino trágico que Freud (2011) já enunciara em seu tomo de 1920.
Ademais, é preciso entender como o matema visa também articular algo da dimensão da angústia inerente à relação entre saber e real. Como Lacan (1992) ressalta por seu discurso da universidade, há algo próprio do universo do saber que se apresenta na necessidade do astudante de um saber-todo, o saber absoluto prometido após o trabalho árduo de ensino. Ora, o real, precisamente, rompe com essa pretensão por revelar o furo imanente a qualquer saber. Como aquilo que resiste ao sentido, o encontro com o real coloca a dimensão traumática da castração em jogo, a angústia pela qual o analista em formação deve passar e deve ser capaz de sustentar. O estilo de Lacan, assim, tem também o objetivo pedagógico de preparar analistas em sua capacidade de escutar como analistas, isto é, a assunção de uma posição de um saber sempre manco. Certamente, o problema se inverte no momento em que tal passagem pela angústia se transforma em uma marca que, novamente, reduz a posição de analista à do mestre; ou, ainda, quando tal furo é preenchido pela promessa de um saber futuro, promessa eterna que faz o astudado trabalhar no discurso da universidade.
Por fim, é preciso lembrar que, para além dos problemas centrados nos analistas, há também um problema próprio da análise: a singularidade impossível do contato do analisando com o real do Gozo. Anteriormente, fizemos lembrar como um dos impasses da captura do real estava na relação que a singularidade do Gozo impõe. Ora, o problema aqui se repete no âmbito da transmissão, visto que, enquanto realidade singular, tal relato subjetivo não poderia ser transmitido para além do encontro analítico no qual pode ser escutado (Johnston, 2013). Escrever uma análise singular por uma sintaxe universal-cumulativa, em tese, implicaria a perda do caráter singular do que se escuta, bem como a cristalização da teoria sob o formalismo em questão. O problema que se interpõe, portanto, é como pensar que cada caso clínico impõe, para a teoria formalizada, o desafio de pensar o que é heterogêneo e novo para uma dada situação, o caráter propriamente produtivo e singular do procedimento clínico que atualiza o universal em cada reiteração dos conceitos.
De fato, se, pela singularidade de uma análise, nenhum significado final pode ser pressuposto de antemão - uma vez que a fala singular do sujeito implica a escuta singular do analista -, a construção de qualquer conceituação formal deve ser capaz de levar em conta como a própria escuta e aplicação dos conceitos analíticos se modifica na tentativa de se pensar aquilo que antes não tinha lugar, senão como pura ausência no procedimento. Ou seja, a construção dos casos clínicos é marcada pela impossibilidade de redução do singular a uma estrutura universal imutável.
Mais ainda, a construção de uma análise é, simultaneamente, irredutível aos preconceitos de uma prática - ao que se pressupõe ser a verdade do sujeito -, bem como irredutível ao espaço puramente privado da clínica, pois esta construção singular pode dizer algo de novo, seja em maior ou menor grau, do que é possível para uma psicanálise. Assim, não se trata somente pensar as variações possíveis para as estruturas invariantes, mas também a possibilidade de modificação do que se entende por invariante na instituição da psicanálise, a composição de novos problemas para o pensamento psicanalítico (Tupinambá, 2021). Efetivamente, o matema deve ser capaz não só de transmitir o que já foi pensado, mas também a própria forma genérica do pensar, enquanto formalismo capaz de lidar com a relação entre universal e invariante e o que se implica de singular, heterogêneo e novo na experiência analítica. Como sugere Tupinambá,
[...] encontrar um lugar para o genérico em um modelo metapsicológico é, portanto, encontrar uma maneira histórica de atar o espaço analítico e aquilo que o excede - um modo que é deslocável, passivo de transformações, e não somente para um analisando, mas para o espaço analítico como tal. (Tupinambá, 2021, p. 140, tradução nossa).
A formalização matemática, assim, deve tornar comunicável o caráter singular do analisando e o caráter sempre incompleto do saber do analista, bem como a incompletude própria do procedimento e espaço psicanalíticos (a relação íntima entre o que é significativo para uma psicanálise e constituição do procedimento analítico). Destarte, pelo matema, trata-se “[...] [d]a aposta que esta forma impossível de gozo pode ser capturada por um formalismo e transmitida aos outros [...].” (Tupinambá, 2021, p. 113, tradução nossa).
O rigor lacaniano: um projeto aberto
Em seu recente livro, The Desire of Psychoanalysis (2021), o psicanalista Gabriel Tupinambá oferece uma nova maneira de pensar o procedimento analítico, o que ele denomina de “perspectiva genérica da psicanálise”. Tupinambá retoma da filosofia de Alain Badiou o conceito de “genérico”, a capacidade de um procedimento ser capaz de pensar aquilo que é, simultaneamente, incomensurável e indiferente a seu estado atual de coisas, pela constante expansão do que então passa a contar como significativo para sua operacionalidade procedimental. Badiou, no seu Manifesto pela Filosofia (2022), associa à capacidade genérica de um pensar a fidelidade de um sujeito - sua capacidade de se orientar pela ideia que impõe um pensar. Nesse ponto, gostaríamos de ler essa fidelidade de Badiou como uma espécie de rigor, mais especificamente, no caso que aqui expomos, o rigor lacaniano ante a perspectiva genérica do pensar psicanalítico.
Como já exposto, o impasse da formalização pode ser destrinchado entre dois problemas inapartáveis: a questão do limite e a questão da transmissão. No plano do limite, Lacan busca um modo de pensar o real para além da pura singularidade da clínica e da equivocidade poética. Sua intenção é formular um modo de tratar rigorosamente da amarração borromeana que marca a realidade do sujeito, uma maneira de outorgar à teoria psicanalítica o caráter demonstrativo das matemáticas. Assim, o que os modelos formais propostos por Lacan apresentam são suas tentativas de pensar em fidelidade com esse aspecto matemá-tico, conjugado ao caráter poético que faz aparecer o real como impossível. Ao mesmo tempo, é essencial para o psicanalista transmitir a força desse pensar, isto é, garantir uma forma de transmissão integral e sem perda. Há, assim, no projeto do matema, uma intenção, simultaneamente, protréptica - que diz respeito à posição de analista - e formalista - que diz respeito a uma transmissão integral.
Não obstante, o que aqui sugerimos é que, longe de uma mera intenção formalista direcionada ao que já existe na teoria psicanalítica, trata-se, mais profundamente, de um impulso genérico, de uma forma de composição que ultrapassa a mera preservação do dispositivo analítico. Ou seja, um impulso genérico por impor uma relação indissociável entre indiferença - o que se implica para além de uma dada situação analítica - e geratividade - o que passa a contar como significativo para o procedimento analítico. Devemos lembrar, afinal, que, a cada nova tentativa de formalização de Lacan, a psicanálise se torna capaz de pensar mais coisas do que podia anteriormente; mais ainda, pois aquilo que ela passa, então, a ser capaz de pensar é indiferente aos limites do que parecia a totalidade de seu campo, precisamente por implicar que existe algo que excederia seu atual domínio. A perspectiva genérica, tal como lembra Tupinambá (2021), portanto, torna-se um modo de operar psicanaliticamente, de pensar por meio da fidelidade à ideia do inconsciente, com todo o rigor de lidar com os impasses próprios que esse pensar impõe. Ou seja, “o pensamento psicanalítico é genérico porque é terminável e interminável, um conjunto de processos finitos que costuram um procedimento infinito” (Tupinambá, 2021, p. 117, tradução nossa).
Ainda que tal perspectiva não tenha sido teorizada por Lacan, nossa sugestão é que, nesses momentos de tentativa, nos pontos em que se tratava de levantar (ainda que apenas implicitamente) os impasses próprios ao pensar psicanalítico enquanto um procedimento, o psicanalista se compunha com o caráter genérico da psicanálise. Nesse sentido, gostaríamos de propor que as tentativas de formalização não devem ser pensadas como terminadas, tampouco como fracassos completos; trata-se, de fato, de experimentações do pensar psicanalítico.
Deste modo, talvez seja interessante pensar que o fracasso do programa do matema não deriva da impossibilidade de uma ciência do real, de que o impasse imanente à formalização (Lacan, 1985b) não pode ser superado, pois o objeto a na metapsicologia só pode subsistir como “[...] uma inconsistência não-matemática que parasita a consistência formal [...]” (Tupinambá, 2021, p. 156, tradução nossa); mas, sim, que tal impasse só pode ser propriamente pensado por meio da perspectiva genérica que aqui dispomos. Assim, gostaríamos de propor que o fracasso de que fala Lacan (2003b) é, antes, o de não ser capaz de sustentar seu ensino em fidelidade ao caráter genérico e compossível da psicanálise, fracasso em fundar uma escola capaz de corresponder a seu rigor.
Referências
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Verso
1
Nossa intenção, com a referência a Kant, é ressaltar a relação do limite, o aspecto negativo que o objeto ocupa na experiência. Para Kant (2014), o objeto sempre se reduz à experiência, por isso, é impossível apreendê-lo em-si. No caso lacaniano, trata-se que, visto o objeto (a) só existir enquanto perda, ele está sempre em excesso em relação à experiência, por isso, inacessível ao conhecimento por ser seu ponto de furo. Ou seja, ainda que concordemos com o ponto de Zizek (2011) que o objeto a não é a coisa-em-si de Kant, o interessante é notar como a problemática do limite coloca um ponto de contato - como algo da experiência subjetiva do objeto aparece como negativo, como impossibilidade.
2
Não é nossa intenção, neste artigo, destrinchar a totalidade deste argumento. Nosso intuito é, apenas, apontar como esse impasse aparece para o psicanalista, bem como alguns dos motivos pelos quais, para Lacan (1985b), ele permanece insuperável, um limite imanente a qualquer formalização. Para uma melhor discussão desse problema, como também dos compromissos lacanianos que configuram a articulação desse limite e um outro modo de pensá-lo, recomendamos o capítulo Groundwork for a Metapsychology of Ideas (em Tupinambá, 2021).
Authorship
Leonardo Saturnino Centeno
Bacharel em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG)
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Belo Horizonte/MG, Brasil.Universidade Católica de Minas GeraisBrazilBelo Horizonte, MG, BrazilUniversidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Belo Horizonte/MG, Brasil.
Professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG)
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Belo Horizonte/MG, Brasil.Universidade Católica de Minas GeraisBrazilBelo Horizonte, MG, BrazilUniversidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Belo Horizonte/MG, Brasil.
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Belo Horizonte/MG, Brasil.Universidade Católica de Minas GeraisBrazilBelo Horizonte, MG, BrazilUniversidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Belo Horizonte/MG, Brasil.
Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJInstituto de Psicologia UFRJ, Campus Praia Vermelha, Av. Pasteur, 250 - Pavilhão Nilton Campos - Urca, 22290-240 Rio de Janeiro RJ -
Rio de Janeiro -
RJ -
Brazil E-mail: revistaagoraufrj@gmail.com
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