Introdução

A produção científica tem aumentado exponencialmente, tornando o método da Revisão Sistemática da Literatura (RSL) cada vez mais relevante. Com tradição na área da saúde, os pesquisadores mantêm-se atualizados e frequentemente desenvolvem novas diretrizes para as práticas clínicas a partir da RSL (Galvão; Pansani; Harrad, 2015). O propósito da RSL é auxiliar os tomadores de decisão na identificação das melhores evidências entre diversos estudos. O acúmulo massivo de pesquisas ao longo dos anos pode gerar estudos tendenciosos, metodologicamente falhos e mal interpretados, resultando em contradições. Por essa razão, a RSL tornou-se fundamental nas ciências médicas e hoje é amplamente utilizada. No entanto, a RSL nas ciências sociais, especialmente na Arquitetura, ainda é pouco explorada.

Como apresentado no Quadro 1, ao selecionar na base de dados Scopus os artigos que tinham como palavra-chave “revisão sistemática da literatura”, limitados à área de saúde (medicina, enfermagem, saúde, biociências, psicologia, neurociência, imunologia, farmácia e odontologia), encontrou-se 2.379 artigos. Por outro lado, ao selecionar artigos com a mesma palavra-chave e acrescentar “arquitetura”, excluindo os relacionados à informática e limitando a pesquisa às áreas de ciências sociais e artes e humanidades, o total encontrado foi de 10 artigos. Além disso, os problemas de pesquisa são raramente idênticos, geralmente utilizam-se métodos qualitativos, e há pouco consenso sobre as principais questões de pesquisa.

A RSL é um método de investigação científica de pesquisa secundária que resume os achados das pesquisas primárias, contribuindo para a transparência, clareza e reprodução de evidências científicas de alta qualidade. Inicia-se com uma questão de pesquisa e, em seguida, métodos são pré-definidos para localizar estudos relevantes, extrair seus dados e sintetizá-los. Segundo Page et al. (2021), as revisões sistemáticas desempenham diversos papéis, como:

1. sintetizar o conhecimento de um campo específico, identificando futuras pesquisas;

2. desenvolver discussões inviáveis em estudos individuais;

3. identificar problemas nas pesquisas primárias que devem ser corrigidos em estudos futuros; e

4. criar ou avaliar conceitos sobre como ou por que fenômenos ocorrem.

Tranfield, Denyer e Smart (2003, p. 208) explicam que “[...] o objetivo de conduzir uma revisão de literatura muitas vezes permite que o pesquisador mapeie e avalie o território intelectual existente, especificando uma questão de pesquisa para desenvolver o conhecimento mais adiante no corpo existente”.

Para isso, optou-se pela ferramenta PRISMA2020¹, que auxiliou na estrutura e apresentação das seções deste relatório, contribuindo para a qualidade e transparência dos relatos². Da mesma forma, utilizou-se uma planilha eletrônica para manejar a extração dos dados e elaborar a síntese. O presente artigo não discutirá o problema de pesquisa sobre as plantas. Essa pesquisa serve apenas como suporte empírico da aplicação da RSL, utilizada para identificar problemas e discutir alternativas para superá-los. O objetivo aqui é discutir os ganhos e limitações do uso da RSL nas ciências sociais aplicadas à arquitetura. Assim, com base no método aplicado à pesquisa sobre os procedimentos adotados pelas incorporadoras para a definição das plantas das unidades de moradia, a metodologia adotada será discutida. A aplicação do método nas ciências sociais aplicadas à arquitetura exige adaptações, que serão exploradas neste trabalho.

Referencial teórico

Para a aplicação do método da Revisão Sistemática de Literatura (RSL), utilizaram-se as abordagens propostas por Okoli (2015), Kitchenham (2004) e Tranfield, Denyer e Smart (2003)³. Segundo esses autores, o objetivo da RSL não é apenas compilar evidências, mas também analisar o progresso de uma linha de pesquisa. Dessa forma, identificam-se lacunas e recomendações para trabalhos futuros. Cook, Mulrow e Haynes (1997, p. 3) definem as revisões sistemáticas como:

Nesta perspectiva, Kitchenham (2004) aponta as principais etapas que compõem a Revisão Sistemática da Literatura: planejamento, condução e relato da revisão. O planejamento consiste em verificar a necessidade do método. De acordo com Kitchenham (2004), a necessidade da revisão surge do propósito de obter informações gerais sobre um fenômeno de forma imparcial. Uma vez compreendida a necessidade da RSL, desenvolve-se o protocolo. O protocolo é “[...] um plano que ajuda a proteger a objetividade fornecendo descrições explícitas dos passos a serem dados [...]”, esclarecem Tranfield, Denyer e Smart (2003, p. 215). Nele, a formulação da questão de pesquisa é a atividade mais importante.

O passo seguinte, proposto por Kitchenham (2004), é a condução da revisão, que inclui cinco atividades: identificação da pesquisa, seleção dos estudos, avaliação da qualidade, extração e síntese dos dados. A identificação é realizada a partir da estratégia de busca de palavras-chave, termos e strings⁴ apropriadas. A seleção dos estudos avalia a relevância dos artigos, com o desenvolvimento de critérios de inclusão e exclusão. Okoli (2015, p. 19) explica: “[...] a seleção prática é uma parte bastante subjetiva da revisão de literatura. Não há erros e acertos absolutos aqui, mas há considerações sobre o que é razoável e justificável”. A avaliação do estudo analisa a qualidade metodológica da pesquisa. Segundo Tranfield, Denyer e Smart (2003, p. 215), “a avaliação da qualidade refere-se à validade interna de um estudo e ao grau em que seu desenho, condução e análise minimizaram vieses ou erros”. Em estudos qualitativos, essa análise está sujeita à subjetividade do pesquisador e do pesquisado, pois, ao contrário das pesquisas quantitativas, a qualitativa não é padronizada nem mensurável.

A extração de dados tem como objetivo registrar informações dos estudos que respondem à questão central da revisão. Por fim, a síntese dos estudos é realizada com discussões e comparações. Kitchenham (2004, p. 8) explica que “a síntese pode ser descritiva (não quantitativa), mas às vezes é possível complementar uma síntese descritiva com um resumo quantitativo”. Após a conclusão da RSL, o relato dos resultados é publicado em periódicos, dissertações ou teses.

Diante do exposto sobre a aplicação da RSL, foram consultadas sete referências da área de arquitetura que utilizaram esse método: Macedo, Ornstein e Elali (2022), Muianga et al. (2021, 2022), Brito e Brandstetter (2022), Sugiyama et al. (2021), Kowaltowski et al. (2019) e Costa, Logsdon e Fabricio (2017). Essas referências foram selecionadas porque, dentre os poucos trabalhos de RSL na área da arquitetura, tratavam do projeto arquitetônico e de seus usuários e consumidores⁵. De modo geral, todos os artigos relataram claramente as bases de dados e palavras-chave utilizadas, sendo as bases Web of Science e Scopus as mais frequentes. Quanto ao número de bases pesquisadas, observou-se desde a priorização de uma única base até a consulta a múltiplas bases. Poucos artigos foram incluídos na seleção final, como na pesquisa de Sugiyama et al. (2021), que encontrou 20 artigos relevantes. Apenas três estudos usaram ferramentas computacionais para a revisão, como Start⁶ e Zotero⁷. A ferramenta mais utilizada foi a bola de neve⁸, presente em quatro dos sete estudos. O PRISMA2020 e seus antecedentes foram explorados em apenas dois estudos.

Na avaliação da qualidade dos artigos, três estudos adotaram métodos diferentes, o que indica a necessidade de adaptações na condução da RSL na área da arquitetura. Quanto à extração de dados, notou-se a necessidade de categorizar e separar por escalas, devido à interseção dos temas. Por exemplo, na pesquisa de Muianga et al. (2021), os dados foram agrupados por temas econômicos, sociais e ambientais, além de escalonados quanto aos espaços urbanos, internos e externos. Portanto, percebem-se diferenças na condução da RSL, atribuídas à complexidade da pesquisa em ciências sociais aplicadas à arquitetura.

Aplicação do método

A revisão da literatura deste trabalho foi dividida em quatro etapas, correspondendo a oito procedimentos no total (Figura 1). A primeira etapa, o planejamento, foi baseada na pergunta principal da pesquisa. Em seguida, a etapa de triagem inclui três procedimentos. O processo inicia-se pela estratégia de busca, que consiste em identificar as bases de dados para localizar artigos relevantes, seguida da busca na literatura, combinando palavras-chave com operadores booleanos⁹. Por fim, ocorre a seleção dos estudos, para definir quais artigos serão incluídos ou excluídos na revisão. Neste caso, a técnica da bola de neve é utilizada para identificar artigos relevantes que, embora possam não aparecer nas buscas iniciais, estão referenciados em estudos já encontrados. Isso ocorre principalmente porque dissertações, relatórios técnicos, teses, apresentações de conferências e outras fontes não indexadas formalmente em bases de dados acadêmicas podem ser de grande relevância, mas são difíceis de localizar utilizando apenas buscas convencionais.

A próxima etapa é a extração dos dados, na qual, com o auxílio de uma planilha eletrônica, os dados relevantes são coletados dos artigos selecionados. A última etapa é a conclusão, em que os resultados e a discussão dos artigos incluídos são resumidos para responder à pergunta principal da pesquisa.

Pergunta da pesquisa

O objetivo da aplicação da RSL é compreender a tomada de decisão dos agentes imobiliários na definição das plantas de um produto imobiliário. Para isso, há um modelo de estratégia de busca bibliográfica amplamente utilizado na área da saúde clínica: o acrônimo PICO. Contudo, essa ferramenta é mais adequada para questões de natureza quantitativa. Assim, o acrônimo SPIDER apresenta-se como uma alternativa para pesquisas com abordagens qualitativas ou mistas, sendo mais adequado ao presente trabalho. Segundo Cooke, Smith e Booth (2012), foram necessárias adaptações da ferramenta PICO para torná-la mais apropriada às pesquisas qualitativas. A estratégia SPIDER é composta por: Sample (amostra), Phenomenon of Interest (fenômeno de interesse), Design (desenho), Evaluation (avaliação) e Research Type (tipo de pesquisa). Dessa forma, a partir da estratégia SPIDER, a questão investigativa foi elaborada respeitando as diretrizes da ferramenta (Quadro 2).

Desta forma, a questão investigativa é: Quais são os procedimentos adotados pelas incorporadoras para definição das plantas das unidades de moradia?

Triagem dos artigos

Estratégia de busca internacional e nacional

Para a estratégia de busca internacional, a base científica escolhida foi o Scopus, um portal digital amplamente reconhecido na área de Ciências Sociais. Seu banco de dados é multidisciplinar e revisado por pares, abrangendo ciência, tecnologia, medicina, ciências sociais, artes e humanidades. O Scopus dispõe de um sistema indexador inteligente que referencia publicações de temas semelhantes, facilitando a busca do pesquisador. Para a busca nacional, foram utilizadas quatro bases de dados: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), SciELO, ResearchGate e Busca Integrada da ABCD USP¹⁰.

Busca na literatura internacional

Para realizar a busca na literatura, foram utilizados operadores booleanos. Simultaneamente, os termos das strings de busca foram construídos com base na questão central da pesquisa (Figura 2). A primeira string representou o arranjo das palavras-chave identificadas na pergunta central: incorporadoras, plantas e moradias. No entanto, o resultado foi bastante restrito, com apenas 31 documentos encontrados, evidenciando a necessidade de ampliar o escopo da pesquisa. Assim, na segunda string, o termo incorporadoras foi substituído por mercado imobiliário, mas a quantidade de documentos obtida foi ainda menor do que na string anterior.

Diante das duas tentativas insatisfatórias, optou-se por utilizar a palavra-chave decisão no lugar de incorporadoras, mantendo os sinônimos de plantas e moradias já empregados. Outros autores podem estar utilizando diferentes expressões para o mesmo conteúdo, sendo, portanto, essencial incluir sinônimos. O Scopus apresenta uma lista de palavras-chave que permite identificar esses sinônimos após a primeira busca.

Essa busca internacional apresentou um número considerável de documentos, gerando artigos relevantes para a seleção. Embora a terceira string tenha sido viável, a estratégia ainda foi insuficiente, pois resultou em documentos de variados contextos, poucos relacionados a plantas, foco da pesquisa. Por isso, a quarta string direcionou a abordagem para a dimensão dos consumidores, onde são realizadas as pesquisas de mercado imobiliário. Operacionalmente, foi necessário restringir a busca ao ambiente de projeto, o que resultou em projetos de diferentes tipos. A palavra-chave plantas foi mantida nas quatro strings, sendo flexibilizados apenas os demais termos. Nesse sentido, a terceira e a quarta strings encontraram artigos significativos para a discussão, e os documentos encontrados foram preparados para as próximas etapas desta revisão.

A terceira string resultou em 755 publicações, mas uma segunda filtragem foi realizada para viabilizar a manipulação dos documentos. Assim, os artigos foram filtrados por subáreas¹¹, a fim de concentrar apenas os relacionados à área de pesquisa. Em seguida, os anos de publicação foram limitados ao período entre 2000 e 2022, com o objetivo de identificar os artigos mais recentes sobre o tema. Além disso, realizou-se uma filtragem por palavras-chave associadas ao tema¹², para restringir ainda mais os artigos ao recorte específico da pesquisa. Por fim, iniciou-se o processo de triagem, com a leitura dos títulos e resumos, resultando em 26 artigos finais (Figura 3).

A quarta string no Scopus encontrou 674 publicações, tornando necessária uma segunda filtragem para viabilizar a manipulação dos documentos. Assim, os artigos foram filtrados por subáreas¹³, fim de concentrar apenas os relacionados à área de pesquisa. Em seguida, filtraram-se as palavras-chave associadas ao tema¹⁴ para restringir ainda mais os artigos ao recorte específico da pesquisa. Realizou-se, então, outra filtragem por meio da leitura dos títulos e resumos. Neste caso, não foi realizada a filtragem por ano de publicação, pois, ao aplicar o filtro por subáreas, encontrou-se um número reduzido de artigos. Durante esse processo, foram identificados artigos de diversas áreas, como design de interface, usinas nucleares, transportes, lojas virtuais, indústrias e armazéns. Nesse contexto, selecionaram-se documentos relacionados a edificações habitacionais, prédios acadêmicos, escritórios, supermercados e hospitais, resultando em 17 artigos finais (Figura 4).

Finalmente, a soma da terceira e da quarta strings resultou em 43 artigos, dos quais 2 eram duplicados. Portanto, após a triagem da literatura internacional, restaram 41 artigos finais.

Busca na literatura nacional

Os operadores booleanos foram utilizados na busca da literatura nacional de forma semelhante à estratégia aplicada na literatura internacional, porém com adaptações, devido às limitações do sistema indexador das plataformas brasileiras. Além disso, foi necessário identificar as palavras-chave da literatura nacional (Figura 5). Assim, a partir da pergunta central, a string de busca nacional foi elaborada com a seguinte combinação de palavras-chave: Incorpora*¹⁵, ou Mercado Imobiliário, Projeto ou Produto e Apartamento.

Devido às limitações das combinações nas plataformas nacionais, foi necessário desmembrar as palavras-chave da string em cada base de dados nacional (Quadro 3). Durante a busca na literatura brasileira, observou-se que a palavra-chave “mercado imobiliário” é amplamente utilizada, resultando em diversos documentos, diferentemente da literatura internacional, onde foi preciso planejar outra estratégia para substituir a palavra-chave “incorporadora”. Com base na experiência adquirida na construção da string de busca internacional, percebeu-se que a palavra “projeto” poderia ser uma alternativa para ampliar o número de documentos encontrados. Notou-se também que, na literatura internacional, “projeto” e “produto” podem se referir à habitação vertical de maneira semelhante. Por isso, em alguns momentos, a palavra-chave “produto” foi usada no lugar de “projeto”. Ao utilizar a palavra-chave “planta”, o número de documentos se restringia significativamente, tornando inviável a manipulação dos estudos. Outro ponto relevante é o uso adequado da palavra-chave “apartamento” na literatura nacional, associando-se à venda de unidades habitacionais. Ao final da busca na literatura brasileira, foram encontrados 62 documentos filtrados por títulos e resumos, mas 15 eram duplicados, resultando em um total de 47 documentos nacionais. Os documentos encontrados possuem tipologias variadas, sendo 30 artigos, 14 dissertações e 3 teses de doutorado.

Seleção dos estudos internacionais e nacionais

A seleção dos estudos consistiu em identificar artigos significativos que respondessem à pergunta inicial desta revisão. A primeira triagem foi baseada no título e no resumo dos artigos. Em seguida, os 41 estudos internacionais e 47 documentos nacionais foram analisados para definir o recorte, seguido de leituras completas daqueles que atenderam aos critérios.

Para isso, aplicou-se a técnica das abordagens principais, que visa obter um conhecimento geral do assunto e mapear as perspectivas pelas quais ele é discutido, permitindo a escolha do recorte da pesquisa. Essa técnica é uma adição ao método da revisão sistemática. As palavras-chave dos documentos foram classificadas por temas em comum no programa MS Excel, resultando em 10 abordagens: Metodologia de Pesquisa Científica, Edifícios e Construção, Desenvolvimento de Projetos de Habitação, Tipos Específicos, Produtos, Tecnologia de Projeto, Decisão, Ambiental e Energia, Urbano, Comportamento do Consumidor e Atributos.

Os estudos foram codificados com suas características principais, como autor, ano, país/estado, título e três abordagens principais. Os artigos internacionais foram categorizados por cores de acordo com os continentes de origem, e as pesquisas nacionais, conforme as regiões. Por fim, em uma nova planilha, as abordagens principais de cada estudo foram relacionadas às 10 abordagens identificadas inicialmente, resultando em uma lista organizada por continentes e regiões que mais investigam o tema.

Esse processo permitiu compreender os assuntos de contorno da pesquisa. Com isso, o recorte da pesquisa foi definido, e três abordagens foram selecionadas:

1. Desenvolvimento de Projetos de Habitação;

2. Produtos; e

3. Comportamento do Consumidor e Atributos.

Na perspectiva do cenário internacional, é possível fazer algumas observações obtidas por meio da técnica das abordagens principais (Quadro 4).

Na abordagem de Desenvolvimento de Projetos de Habitação, a maioria dos artigos foi desenvolvida na Ásia, seguida pela Europa. Cinco estudos abordam o tema Design Participativo, quatro tratam de plantas de apartamentos e três discutem a customização em massa. Na abordagem de Produtos, as investigações estão distribuídas entre Ásia, Europa e América Latina, com o Brasil sendo o destaque na América Latina. O autor Carlos Torres Formoso aparece em quatro dos artigos brasileiros encontrados.

Na abordagem de Comportamento do Consumidor e Atributos, a Europa, Ásia e Oceania têm grande participação. Os temas abordados incluem a tomada de decisão do consumidor, requisitos dos clientes, satisfação, preferências e valores. De modo geral, há uma forte contribuição da Ásia e da Europa nas três abordagens definidas como recorte da pesquisa.

No cenário nacional, também é possível fazer algumas observações a partir dos achados obtidos pela técnica das abordagens principais (Quadro 5).

Percebe-se o predomínio de pesquisas na região Sudeste em todas as três abordagens. Na abordagem de Desenvolvimento de Projetos de Habitação, o Nordeste também apresenta importante contribuição, com nove estudos relacionados a apartamentos, enfocando características, qualidade arquitetônica, Avaliação Pós-Ocupação (APO) e história da verticalização. Quatro estudos tratam da flexibilidade, e dois abordam os arranjos espaciais na renovação e reprodução das plantas.

Na abordagem de Produtos, observa-se a participação das regiões Nordeste, Sul, Centro-Oeste e Sudeste. Os temas envolvem a incorporação no âmbito de pesquisas descritivas e discussões sobre arquitetura no campo do produto imobiliário.

Por fim, além do Sudeste, as regiões Centro-Oeste e Nordeste estão envolvidas na discussão sobre Comportamento do Consumidor e Atributos. Os temas abordam preferências, tomada de decisão e percepção de qualidade dos usuários. A pesquisadora Maria Carolina Brandstetter se destaca em três dos quatro estudos da região Centro-Oeste. De modo geral, há poucos estudos focados no comportamento do consumidor.

Com base no recorte das abordagens e na compreensão das principais discussões, foram estabelecidos os critérios de inclusão e exclusão dos estudos para leitura completa (Quadro 6).

Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, restaram 11 artigos internacionais e 23 documentos nacionais para leitura completa. No entanto, com a aplicação da técnica da bola de neve, foram adicionados dois artigos à literatura internacional, totalizando 13, e mais um documento à literatura nacional, totalizando 24. A Figura 6 apresenta o fluxograma de todo o processo de revisão da literatura internacional e nacional adotado neste estudo.

Na sequência, realizou-se a leitura detalhada dos estudos, e os dados foram extraídos a fim de obter uma síntese das evidências que respondem à questão central desta pesquisa.

Extração dos “dados”¹⁶

A extração dos dados tem como objetivo responder à questão central da pesquisa. A visualização dos resultados em gráficos, figuras ou tabelas contribui para uma organização mais clara e uma análise crítica detalhada.

Após a seleção dos 37 documentos aderentes, os dados de cada um foram classificados em uma planilha eletrônica. Em ordem cronológica, os dados extraídos incluíram: autor, ano, país/estado, título, base de dados de origem, natureza da pesquisa e tipo de estudo.

Nas pesquisas internacionais, observa-se que a maioria é do tipo survey e estudo de caso, com poucas pesquisas de natureza qualitativa. Em contraste, a maioria dos estudos nacionais é de natureza qualitativa.

Os estudos brasileiros aderentes apresentam diversos formatos, como artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado (Figura 7). A maioria dos artigos aderentes tem origem em teses e dissertações.

Para uma análise mais cautelosa e sensível, os dados extraídos incluíram: Objeto de estudo, Objetivo do estudo, Questões básicas, Conceitos básicos, Metodologia, Análise dos resultados e Conclusão. Nesta fase, foi utilizada uma coluna para cada discussão relevante encontrada na literatura. Posteriormente, o relato de cada discussão pode ser feito em ordem cronológica, por coluna/discussão, construindo a evolução dos conceitos básicos, deixando clara a contribuição de cada autor, além de evidenciar as principais divergências, convergências e suas referências teóricas.

Por fim, a partir da pergunta central da pesquisa, foi formulada uma nova tabela que capturou as discussões sobre os atributos das plantas, com base em pesquisas com usuários/consumidores. Os detalhes das discussões levantadas nessa fase são tratados mais adiante.

Resultados obtidos na RSL

Resultados internacionais

Os resultados indicam uma escassez de estudos voltados ao tema desta pesquisa, especialmente aqueles relacionados às plantas das unidades de moradia.

Nos dados bibliométricos, conforme mostrado na Figura 8, foram identificadas mais publicações nos anos de 2011 e 2020, além de uma constância nas publicações sobre o processo de definição do produto imobiliário. Na Figura 9 observa-se que a Ásia e a Europa lideram as investigações relacionadas à questão central desta pesquisa.

Conforme apresentado no Quadro 7, percebe-se a diversidade de fontes dos artigos internacionais. Não há reincidência de periódicos, o que pode indicar diferentes perspectivas sobre o mesmo tema.

Resultados nacionais

Assim como nos resultados internacionais, os resultados nacionais também indicam poucos estudos voltados ao tema desta pesquisa. No entanto, durante a revisão da literatura nacional, foram encontrados diversos estudos específicos sobre as plantas das unidades de moradia, o que difere da literatura internacional.

Nos dados bibliométricos, conforme a Figura 10, observa-se que foram levantadas mais publicações no ano de 2018 e uma constância de publicações ao longo dos anos sobre o processo de definição do produto imobiliário residencial. A região Sudeste lidera as investigações relacionadas à questão central desta pesquisa (Figura 11).

Conforme apresentado no Quadro 8, percebe-se a diversidade de fontes dos artigos, embora quatro dos 11 artigos tenham sido publicados no periódico Ambiente Construído.

Resultados da relação da literatura internacional e nacional

Ao compilar as discussões, notam-se diferenças no foco das pesquisas sobre determinados temas no exterior e no Brasil (Quadro 9).

No contexto internacional do desenvolvimento de projetos habitacionais, o Design Participativo é abordado por meio de sistemas digitais que permitem a coprodução de tipologias de habitação coletiva por arquitetos e usuários finais, conforme suas necessidades. Uma alternativa explorada é a gamificação dos programas, para facilitar o uso por leigos. Tal discussão, assim como a do desempenho do ciclo de vida do edifício, não foi encontrada na literatura nacional.

Todavia, os trabalhos nacionais focam na massificação dos projetos habitacionais, abordando a história da profissionalização do mercado imobiliário entre os anos 1910 e 1980 em São Paulo (Anitelli, 2010; Anitelli; Tramontano, 2012) e a influência dos agentes imobiliários paulistanos em outras localidades do Brasil (Anitelli, 2015), além de críticas ao marketing imobiliário na produção de edifícios residenciais em Santos.

Já no campo das plantas dos apartamentos, destacam-se três vertentes no Brasil: customização, flexibilização e características das plantas. A customização oferece ao futuro usuário um leque de escolhas no momento da compra do imóvel. A flexibilização, conforme Brandão (2002, p. 2), é importante “[...] como mecanismo não somente para atender à incerteza da primeira ocupação do imóvel como também às modificações requeridas ao longo de sua vida útil [...]”. Algumas pesquisas brasileiras identificaram e avaliaram a flexibilidade das configurações espaciais nos apartamentos (Brandão, 2002; Machado, 2012; Canedo, 2013; Freitas, 2020).

No campo das características das plantas, estudos nacionais investigaram a configuração tipológica dos modelos de apartamentos e sua compatibilidade com novos arranjos familiares (Camargo, 2003; Villa, 2008; Anitelli; Tramontano, 2011; Carolino, 2018; Fernandes, 2018). Internacionalmente, destacam-se estudos sobre as preferências dos usuários quanto ao arranjo espacial dos apartamentos (Gao et al., 2013; Boumová; Zdráhalová, 2016) e sobre como as pessoas compreendem, leem e selecionam as plantas baixas (Ishikawa; Nakata; Asami, 2011). Não foram identificados trabalhos internacionais focados nas particularidades dos modelos de apartamentos, mas sim em alternativas para superar críticas às soluções projetuais.

Na abordagem sobre Comportamento do Consumidor e Atributos, observa-se um maior número de pesquisas internacionais focadas nas percepções dos clientes sobre habitação. Estudos estrangeiros investigam as preferências habitacionais por perfis familiares (Gao et al., 2013), questões geracionais e diferenças entre grupos, como leigos e arquitetos (Boumová; Zdráhalová, 2016). Além disso, utilizam o Modelo de Kano para explorar as percepções subjetivas que influenciam a decisão de compra de imóveis (Llinares; Page, 2011).

No Brasil, apenas dois trabalhos investigaram os atributos de preferência do consumidor, ambos no Rio de Janeiro (Silva; Silva; Araújo, 2013; Abdalla, 2018). Outras pesquisas nacionais abordam indicadores de ofertas habitacionais em Goiânia, que revelam tendências comportamentais, e preços hedônicos, que influenciam a decisão de compra conforme o perfil sociodemográfico.

Pesquisas nacionais e internacionais utilizam o Modelo de Cadeia Meio-Fim (Means-End Chain – MEC) para relacionar atributos de design e os valores dos usuários. A satisfação dos ocupantes, por outro lado, foi explorada exclusivamente no Brasil por meio da Avaliação Pós-Ocupação (Villa; Ornstein, 2010; Villa et al., 2018; Formoso; Leite; Miron, 2011). Isso indica que, enquanto as pesquisas internacionais focam nas preferências habitacionais no momento da compra para orientar futuros empreendimentos, as pesquisas brasileiras concentram-se na satisfação do usuário.

Na abordagem de Produtos, parte dos estudos brasileiros foca no processo de projeto, mapeando e analisando suas etapas. Nesse sentido, os pesquisadores identificaram falhas, como a pouca interatividade entre os envolvidos e a necessidade de implementar modelos de gestão de riscos na fase inicial do empreendimento. Outra linha de pesquisa brasileira propõe o uso do Target Value Design (TVD) na gestão de projetos imobiliários, uma abordagem não encontrada na literatura internacional. Isso sugere que as pesquisas estrangeiras estão mais concentradas no desenvolvimento estratégico do empreendimento.

Nos estudos internacionais, destaca-se o desenvolvimento de modelos de apoio à tomada de decisão para otimizar as estratégias de projetos iniciais de habitações, considerando as necessidades emergentes de cenários multiuso definidos por múltiplos stakeholders (Serugga et al., 2020; Juan; Lin; Tsai, 2019). No entanto, as investigações nacionais sobre o desenvolvimento estratégico do empreendimento ainda são predominantemente exploratórias e descritivas. Alguns exemplos incluem pesquisas que buscam compreender o grau de adoção dos métodos de análise de mercado imobiliário (Meyer, 2000), o processo sistema-produto em duas incorporadoras de portes diferentes (Dill, 2010) e o fluxo de informações dos clientes no processo de desenvolvimento de produtos imobiliários (Barros Neto; Nobre, 2009).

Com base nos procedimentos adotados pelas incorporadoras para definir as unidades de moradias, foram identificadas variadas metodologias que sustentam os modelos de apoio à tomada de decisão. Assim, todas essas ferramentas, tanto internacionais quanto nacionais, foram compiladas no Quadro 10. Isso evidencia um leque de opções provenientes de diversas áreas, que pode ser aplicado na tomada de decisão para reduzir as incertezas no início do desenvolvimento de projetos habitacionais.

Atributos das plantas a partir de pesquisa com o usuário/consumidor

No Brasil, conforme mostra o Quadro 11, o atributo mais discutido sobre plantas é o tamanho dos apartamentos. Segundo Villa e Ornstein (2010), a falta de espaço provoca a sobreposição de atividades não planejadas. Villa et al. (2018, p. 519) enfatizam o “[...] descumprimento de parâmetros básicos de funcionalidade nos edifícios avaliados, em função da redução dimensional dos apartamentos, da excessiva compartimentação dos espaços e da sobreposição de usos não planejados [...]”. Silva, Silva e Araújo (2013) reiteram que, quando os consumidores desconsideram a localização, o espaço interno passa a ser valorizado.

Após o atributo tamanho, o número de quartos e a integração dos ambientes são os mais referenciados nas pesquisas nacionais. O número de quartos está relacionado ao tamanho do imóvel. Quanto à integração dos ambientes, Formoso, Leite e Miron (2011, p. 58) afirmam que “[...] a integração entre cozinha e lavanderia foi um dos principais motivos de insatisfação dos usuários. Aproximadamente 40% dos usuários desejavam separar a cozinha da sala ou já haviam feito essa mudança [...]”. Em contrapartida, Hentschke et al. (2014) apontam que, em perfis familiares com casais sem filhos, em que a mulher é a chefe da família, a integração entre sala de estar, jantar e cozinha é importante, pois oferece um ambiente sociável e agradável.

Em geral, as pesquisas brasileiras utilizam a Avaliação Pós-Ocupação (APO), em detrimento de outras metodologias. As pesquisas que empregam outras ferramentas geralmente são associadas às áreas de administração e engenharia.

Internacionalmente, conforme mostra o Quadro 12, os atributos das plantas mais discutidos nas pesquisas são o número de quartos, materiais, privacidade e layout flexível/adaptável. O número de quartos é um fator crítico na avaliação das plantas, já que os consumidores consideram importante acomodar bem suas famílias (Al-Momani, 2003; Ishikawa; Nakata; Asami, 2011; Gao et al., 2013). Quanto aos materiais, a satisfação dos consumidores está associada à qualidade dos materiais instalados (Al-Momani, 2003; Llinares; Page, 2011; Eryürük; Varolgüneş; Varolgüneş, 2022).

Quanto à configuração dos espaços, a privacidade é um atributo mínimo desejável, e a sua ausência pode gerar insatisfação (Llinares; Page, 2011). Boumová e Zdráhalová (2016) também detectaram a privacidade como um fator-chave. Em contrapartida, Gao et al. (2013) notaram uma preferência por plantas abertas, com baixa privacidade, em famílias de pais maduros que ainda não se aposentaram e vivem com filhos que em breve deixarão a casa. Já as plantas flexíveis impactam a decisão de compra à medida que o imóvel atende a todas as fases do ciclo de vida do ocupante (Llinares; Page, 2011). Na mesma linha, Gao et al. (2013) descobriram que famílias jovens tendem a preferir plantas com alta adaptabilidade. Eryürük; Varolgüneş; Varolgüneş (2022) afirmam que a funcionalidade está relacionada à flexibilidade para os usuários. Em geral, as pesquisas internacionais não utilizam a Avaliação Pós-Ocupação (APO) e não repetem metodologias.

Revisão sistematica da literatura aplicado à arquitetura: desafios, adptações e considerações finais

A Revisão Sistemática da Literatura (RSL) é uma metodologia rigorosa e estruturada que visa identificar, avaliar e sintetizar as evidências relevantes sobre um tema específico. Essa rigidez metodológica é compatível com as ciências médicas, uma vez que a maioria dessas pesquisas utiliza dados quantitativos e apresenta homogeneidade nos métodos, nas intervenções dos estudos e nos resultados. Entretanto, para as ciências sociais aplicadas, especialmente na arquitetura, onde a análise e síntese dos dados costumam ser qualitativas, as discussões podem ser conceituais e difíceis de quantificar.

A arquitetura é uma disciplina interdisciplinar que abrange diversos campos, como urbanismo, design de interiores, construção, conforto e sustentabilidade, história e representações, entre outros. Isso resulta em uma grande diversidade de métodos, abordagens e teorias nos estudos. A combinação e análise de estudos com diferentes enfoques – qualitativos, quantitativos, teóricos, práticos — torna a síntese de resultados mais complexa. Por essa razão, o presente artigo tem como objetivo apresentar as principais dificuldades e adaptações da RSL na área de arquitetura.

O primeiro desafio da RSL na área da arquitetura é identificar as palavras-chave usadas na literatura, pois há ambiguidade nos termos e conceitos empregados, o que dificulta a consistência da pesquisa e a comparabilidade entre os estudos. Dessa forma, é fundamental, ao longo do processo, explorar diversas palavras-chave utilizadas na literatura. Essas palavras-chave são derivadas da pergunta de pesquisa formulada no início da RSL. A depender das palavras-chave, pode-se encontrar um número excessivo de artigos, o que exigirá um recorte mais específico, ou, por outro lado, uma quantidade muito pequena de estudos, limitando a abrangência da pesquisa.

Quando há uma grande quantidade de artigos, adotam-se estratégias de restrição. Essas estratégias incluem a verificação das áreas de abordagem dos artigos, a seleção de artigos mais recentes e o uso de operadores booleanos para incluir novas palavras de restrição, a fim de refinar a busca. Para isso, utiliza-se o operador booleano “AND”. Por outro lado, quando há poucos artigos, é necessário ampliar a busca. Isso ocorre quando a literatura ainda não acumulou discussões suficientes sobre o assunto, tornando essencial identificar as áreas de contorno da discussão. Nesse caso, utiliza-se o operador booleano “OR” ou expressões mais abrangentes, capazes de incluir a discussão na qual o termo pesquisado está inserido.

A técnica das abordagens, aplicada neste artigo, contribuiu para identificar as palavras-chave utilizadas nos textos e, consequentemente, os assuntos de contorno. Dessa forma, foram identificadas dez abordagens relacionadas ao tema da pesquisa e os estudos que apresentam intersecções temáticas. A partir dessas dez abordagens, o recorte da pesquisa foi definido, com a seleção de três para aprofundamento. No entanto, como alguns textos importantes podem não ter sido encontrados, é fundamental complementar a RSL com a técnica da bola de neve.

A bola de neve é uma técnica de busca e seleção de estudos que utiliza as referências bibliográficas encontradas em um artigo para localizar outros estudos relacionados ao tema da pesquisa. Embora tenham sido aplicadas as duas técnicas adicionais na RSL, percebeu-se que alguns textos importantes para a pesquisa não foram encontrados, seja porque não estavam presentes nas bases de dados consultadas, seja porque não utilizavam as palavras-chave definidas. Muitos estudos na área de arquitetura estão disponíveis em diversos formatos, como conferências, apresentações, livros, dissertações e teses, que não são indexados em bases de dados tradicionais de pesquisa acadêmica. Isso dificulta a coleta de uma amostra completa e representativa da literatura existente.

Diante disso, embora a RSL seja um processo sistemático, ela não se mostra suficiente para captar todos os artigos relevantes na área da arquitetura. Assim, será necessário complementar o processo com indicações de pesquisadores da área. Em geral, observa-se a grande relevância da RSL, pois ela permite construir o estado da arte do recorte da pesquisa. No entanto, o método não foi originalmente desenvolvido para as ciências sociais aplicadas à arquitetura, o que trouxe desafios ao longo do processo.

O primeiro desafio está relacionado aos termos de busca e às strings. Nas pesquisas qualitativas, diferentes pesquisadores utilizam termos variados para a mesma abordagem, e pode não haver consenso sobre definições, o que dificulta a construção de uma estratégia eficaz. Por essa razão, a técnica da bola de neve, a técnica das abordagens e a consulta a pesquisadores da área foram aplicadas para ampliar o alcance dos estudos.

O segundo desafio refere-se às bases de dados brasileiras, que são limitadas por não possuírem um sistema indexador mais avançado, capaz de permitir o uso de operadores booleanos e filtros complexos. Além disso, nas ciências sociais aplicadas à arquitetura, há uma maior produção de teses, dissertações e livros do que de artigos, o que explica o número reduzido de artigos encontrados nas revisões.

O terceiro desafio é a avaliação da qualidade dos estudos. Nas ciências sociais, os estudos são heterogêneos, como no caso das entrevistas, que podem ser conduzidas de diversas maneiras. Não existe um padrão único para avaliar a qualidade, o que leva cada pesquisa qualitativa a adotar seus próprios critérios de avaliação.

O quarto desafio envolve os critérios de inclusão e exclusão dos estudos. Devido à multidisciplinaridade, muitos estudos apresentam intersecções temáticas. Para garantir maior clareza, este artigo aplicou a técnica das abordagens.

O quinto ponto refere-se à síntese dos resultados. Quando os dados não podem ser tabulados, é necessário adotar procedimentos de sistematização desafiadores. Para tanto, pode ser útil identificar as principais discussões do conjunto, extraindo de cada texto suas contribuições específicas.

Em resumo, os desafios enfrentados ao longo da RSL evidenciam que as ciências sociais aplicadas à arquitetura possuem enfoques diversificados, dificultando a padronização das pesquisas. Entretanto, as adaptações realizadas na RSL relatadas neste artigo – como a técnica da bola de neve e a técnica das abordagens – permitiram identificar os assuntos de contorno, os variados termos das palavras-chave aplicadas na literatura e a captação de documentos relevantes externos às bases de dados. Assim, as adaptações sugeridas neste artigo podem minimizar os desafios, mas ainda não são suficientes para captar todos os artigos relevantes na área da arquitetura. Portanto, na arquitetura, especialmente em pesquisas qualitativas, é necessário realizar várias adaptações no método de RSL.

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