Open-access Usabilidade de protótipo de aplicativo para autocuidado de pessoas com insuficiência cardíaca

Usabilidad de modelo de aplicación para el autocuidado de personas con insuficiencia cardíaca

Resumo

Objetivo:  Avaliar a usabilidade de um protótipo de aplicativo móvel para promoção do autocuidado de pessoas com insuficiência cardíaca.

Métodos:  Estudo descritivo, transversal, realizado com 16 pessoas com insuficiência cardíaca em seguimento ambulatorial. A usabilidade foi avaliada pelo Smartphone Usability questionnaiRE, cuja pontuação varia de zero a 124 e é classificada de um nível de usabilidade de 30 (possibilidade de discordar totalmente ou parcialmente) até 80 (concordam totalmente). Escores ≥ 70 pontos indicam bons níveis de usabilidade. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva.

Resultados:  Eram do sexo masculino 62,5% participantes; 62,5% eram casados/união estável, com Ensino fundamental Completo; 75% tinham etiologia não isquêmica e fração de ejeção de ventrículo esquerdo reduzida. A pontuação média do Smartphone Usability questionnaiRE foi de 109,75 ± 3,47, com mínimo de 102 e máximo de 114 pontos. A usabilidade foi classificada no nível 80. Todos os participantes concordaram totalmente com a clareza das informações, a linguagem utilizada nos textos, a facilidade de manuseio e a utilidade das orientações fornecidas e indicariam o uso do aplicativo.

Conclusão:  O protótipo de aplicativo apresentou bons níveis de usabilidade, indicando que os usuários finais concordaram totalmente com a inovação tecnológica, atendendo às recomendações de satisfação, eficácia e eficiência de uso. Estudos futuros serão realizados para avaliar seu impacto no comportamento de autocuidado e desfechos clínicos em saúde em pessoas com insuficiência cardíaca.

Descritores
Insuficiência cardíaca; Autocuidado; Aplicativos móveis; Telemedicina

Abstract

Objective:  To evaluate the usability of a mobile application prototype to promote self-care for people with heart failure.

Methods:  A descriptive, cross-sectional study was conducted with 16 people with heart failure undergoing outpatient follow-up. The Smartphone Usability QuestionnaiRE (iRE), with scores ranging from zero to 124 and classified from a usability level of 30 (totally or partially disagree) to 80 (totally agree), was used in the assessment of usability. Scores ≥ 70 points indicate good levels of usability. Data were analyzed using descriptive statistics.

Results:  Male participants corresponded to 62.5% of the sample; 62.5% were married/in a stable relationship, with complete elementary education; 75% had non-ischemic etiology and reduced left ventricular ejection fraction. The average score of the Smartphone Usability QuestionnaiRE was 109.75 ± 3.47, with a minimum of 102 and a maximum of 114 points. Usability was classified as level 80. All participants fully agreed on the clarity of information, language used in the texts, ease of use, usefulness of instructions provided and would recommend using the application.

Conclusion:  The application prototype showed good levels of usability, indicating that end users fully agreed on the technological innovation that met the recommendations for satisfaction, effectiveness and efficiency of use. Future studies will be conducted to evaluate its impact on self-care behavior and clinical health outcomes in people with heart failure.

Resumen

Objetivo:  Evaluar la usabilidad de un modelo de aplicación móvil para promover el autocuidado de personas con insuficiencia cardíaca.

Métodos:  Estudio descriptivo, transversal, realizado con 16 personas con insuficiencia cardíaca bajo seguimiento ambulatorio. La usabilidad se evaluó mediante el Smartphone Usability questionnaiRE, cuyo puntaje varia de 0 a 124 y se clasifica con un nivel de usabilidad de 30 (posibilidad de discordar total o parcialmente) hasta 80 (concordancia total). Los puntajes de ≥ 70 indican buenos niveles de usabilidad. Los datos fueron analizados por medio de estadística descriptiva.

Resultados:  El 62,5 % de los participantes era de sexo masculino, casado/unión de hecho y con educación primaria completa; el 75 % tenia etiologia no isquémica y fracción de eyección de ventrículo izquierdo reducida. El puntaje promedio del Smartphone Usability questionnaiRE fue de 109,75 ± 3,47, con un mínimo de 102 puntos y un máximo de 114 puntos. La usabilidad se clasificó en el nivel 80. Todos los participantes concordaron totalmente con la claridad de la información, el lenguaje utilizado en los textos, la facilidad de manejo y la utilidad de las instrucciones proporcionadas, y recomendaron el uso de la aplicación.

Conclusion:  El modelo de la aplicación presentó buenos niveles de usabilidad, lo que indica que los usuarios finales concordaron totalmente con la innovación tecnológica, que cumple las recomendaciones de satisfacción, eficacia y eficiencia de uso. Se realizarán estudios futuros para evaluar su impacto en el comportamiento del autocuidado y los resultados clínicos de salud en personas con insuficiencia cardíaca.

Descriptores
Insuficiencia cardíaca; Autocuidado; Aplicaciones móviles; Telemedicina

Introdução

A insuficiência cardíaca (IC) é um problema de saúde pública devido aos elevados índices de hospitalizações, morbimortalidade, baixa qualidade de vida e gastos financeiros em saúde. A prevalência mundial encontra-se em 1 a 3% da população adulta. Estima-se que 64,3 milhões de pessoas vivam com a doença.(1) Nos Estados Unidos, seis milhões de americanos apresentam IC; no Canadá, de 1,5 a 1,9% e, na Europa, de 1 a 2% da população.(2) Dados do Ministério da Saúde do Brasil apontam que, no período de 2021 a 2022, foram autorizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) 364.475 internações hospitalares por IC, com taxa de mortalidade hospitalar de 12,9% no período.(3)

Apesar dos avanços terapêuticos dos últimos anos, pessoas IC apresentam uma variedade de sintomas, como fadiga, dispneia, edema de membros inferiores, redução da tolerância a atividades de vida diária, dificuldades para dormir, ansiedade e baixa adesão ao tratamento, o que impacta diretamente na qualidade de vida relacionada à saúde.(4)

Nesse contexto, a adoção de comportamentos de autocuidado por pessoas com IC é essencial para a manutenção da capacidade funcional, da estabilidade da doença, do bem-estar e para a redução de desfechos clínicos desfavoráveis. Estudos prévios destacam que os níveis de autocuidado nessa população são insatisfatórios e precisam ser melhorados.(5, 6, 7) Fatores como conhecimento, habilidades, confiança, letramento em saúde e apoio social influenciam o envolvimento do indivíduo no autocuidado.(6, 8)

Para potencializar o autocuidado e a adesão ao tratamento em pessoas com doenças crônicas, a saúde digital (mHealth) tem sido utilizada como estratégia de suporte.(9) Em geral, o termo mHealth refere-se à prática de usar tecnologia móvel e sem fio em serviços de saúde (smartphones, assistentes digitais e dispositivos de monitoramento). Estudos destacam sua aplicabilidade e seus benefícios para pessoas com IC.(10, 11)

Aplicativos para celular podem auxiliar no automonitoramento de dados fisiológicos, no reconhecimento precoce de sintomas de descompensação clínica, no fornecimento de lembretes e com feedbacks personalizados para cuidados contínuos.(12) No Brasil, tais aplicativos são particularmente interessantes, pois dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apontam o telefone móvel como a ferramenta mais empregada para acessar a internet no país.(13)

Estudo de benchmarking de aplicativos móveis sobre IC buscou aplicativos nas lojas virtuais Play Store e App Store dos sistemas operacionais iOS (Apple) e Android (Google), respectivamente, e verificou que havia apenas três aplicativos brasileiros, dentre os quais, dois eram voltados para profissionais de saúde e um se limitava ao acompanhamento dos sinais e sintomas pós-alta de pacientes com IC por enfermeiros especialistas, sem enfoque em demais aspectos do autocuidado.(14) Estudos posteriores realizados no exterior, descrevendo a criação e avaliação da usabilidade de aplicativos para indivíduos com IC, se concentraram no monitoramento remoto de sinais vitais, adesão medicamentosa,(15) monitoramento do balanço hídrico,(16) não englobando aspectos abrangentes do autocuidado.

Nessa perspectiva, julgou-se pertinente a criação de um aplicativo móvel como ferramenta educacional para a promoção do autocuidado de pessoas com IC no Brasil, que tem diretrizes próprias para cuidado à pessoa com IC,(17) além de características peculiares, como sistema de saúde universal, porém com acesso dificultado, consumo médio de sal de 9g/dia(18) (quase o dobro da quantidade recomendada pela OMS), clima que dificulta a adesão à quantidade de líquidos recomendada e calendário vacinal próprio.

O aplicativo, denominado TumTum, foi desenvolvido e apresentou adequadas evidências de validade em estudo prévio. Ele contém informações sobre a doença, sinais e sintomas, dicas para melhorar o autocuidado e funcionalidades de apoio ao manejo farmacológico e não farmacológico.(19)

O desenvolvimento de aplicativos móveis engloba diversas etapas, uma das quais é medir a usabilidade ao verificar como as pessoas interagem com o produto, tratando-se de um requisito de qualidade na engenharia de softwares.(20) A usabilidade é definida como uma medida pela qual um produto pode ser usado por usuários específicos para alcançar objetivos com eficácia, eficiência e satisfação em um contexto de uso.(l1)

Embora, nas últimas décadas, o uso da internet tenha se expandido nas diferentes regiões geográficas do Brasil(13) e aplicativos tenham sido elaborados na área de Cardiologia(14, 11) no país, os estudos de usabilidade de tecnologias em saúde móvel para pessoas com cardiopatias ainda são escassos. Dessa forma, buscou-se testar o nível de usabilidade do protótipo de aplicativo TumTum sob a perspectiva dos usuários finais, antes de disponibilizá-lo em plataformas on-line. Os resultados desta pesquisa permitirão finalizar o desenvolvimento do aplicativo, bem como testar estratégias de intervenção que possam ser aplicáveis na prática clínica.

O objetivo deste estudo foi avaliar a usabilidade de um protótipo de aplicativo móvel para promoção do autocuidado de pessoas com IC.

Métodos

Estudo descritivo, transversal, para avaliação de usabilidade de aplicativo móvel, realizado no período de janeiro a abril de l0l3. As heurísticas de usabilidade são técnicas gerais de avaliação que descrevem propriedades comuns em interfaces presentes na interação entre usuário e sistema.(11) Por meio da usabilidade, é possível examinar a rapidez do usuário para executar tarefas (eficiência), a facilidade de uso, o design, a capacidade de aprendizagem, a memorização, as taxas de erros e a satisfação em interagir com o software.(20)

A pesquisa foi desenvolvida em um ambulatório de cardiologia de um hospital universitário gerido pelo SUS, referência na assistência de média e alta complexidade, localizado em João Pessoa, na Paraíba, Brasil. Nesse ambulatório, os usuários eram referenciados pela rede municipal de saúde para as consultas especializadas em cardiologia que ocorrem semanalmente às segundas-feiras.

A população foi constituída por pessoas com diagnóstico de IC, independentemente da etiologia, e em seguimento na instituição selecionada. Foram utilizados como critérios de inclusão idade ≥ 18 anos; possuir aparelho de telefone smartphone e Ensino Fundamental completo (≥ 8 anos de estudo). Optou-se por adotar o critério de escolaridade, a fim de reduzir o viés de mensuração. Foram excluídas pessoas em primeira consulta ambulatorial, com déficit cognitivo confirmados em prontuário e em fila de transplante cardíaco.

Com base nos requisitos de avaliação da qualidade de produto de software da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para o teste de usabilidade, é recomendada uma amostra de oito ou mais usuários.(20) Dessa forma, uma amostra não probabilística e intencional de 16 pessoas com IC foi recrutada durante o período de coleta de dados.

O protótipo de aplicativo móvel TumTum foi desenvolvido por docentes de instituições federais públicas e validado por enfermeiros doutores especialistas em cardiologia e pessoas com IC. Apresenta informações educativas (conceito da IC, sinais e sintomas, diagnóstico e tratamento) e orientações não farmacológicas sobre o autocuidado na IC (monitoramento do peso, cuidados com a alimentação, práticas de exercício físico, atividade sexual, uso de medicamentos, higiene do sono, saúde mental, vacinação e cessação do tabagismo). Oferece funcionalidades para registrar consultas, exames, lembretes para o uso de medicamentos em horários agendados, registro do peso corporal diário e informar sinais e sintomas da doença. Gráficos são gerados com flutuações de peso e redflags aos sinais de descompensação clínica, para busca de serviços de saúde.(19)

Para implementação do protótipo de aplicativo, utilizou-se a linguagem de programação JavaScript e a biblioteca React Native, que permite escrever um único código e gerar aplicativos nativos para as plataformas móveis Android e iOS. Em sua versão final, o aplicativo manterá as informações dos usuários na nuvem, gerenciando-as por meio de uma aplicação back-end. O objetivo é oferecer maior segurança quanto à manutenção dos dados, mas garantindo os direitos dos usuários, ao passo que estará em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados. Utilizará uma implementação offline first na aplicação front-end, para lidar com situações de não conectividade durante o uso do aplicativo.(19)

As pessoas com IC agendadas para consulta cardiológica foram convidadas a participar do estudo e apresentadas ao objetivo da investigação. A equipe de pesquisa apresentou o protótipo de aplicativo móvel aos participantes pessoalmente em ambiente reservado, e, após concluir a demonstração, foi disponibilizado um aparelho smartphone com sistema operacional Android para testarem, inserirem informações sobre o tratamento, lerem as orientações educacionais e conhecerem as funcionalidades do TumTum, como lembretes para uso dos medicamentos, visualização de gráficos, agendamentos de consultas e exames. O tempo de uso do protótipo apresentou variação de 30 a 45 minutos. Na sequência, foram respondidos os instrumentos de coleta de dados.

Para categorização da amostra, foi aplicado um instrumento utilizado em um estudo prévio(7) contendo variáveis demográficas (idade, sexo, estado civil, escolaridade, situação laboral e renda familiar) e clínicas (etiologia da IC, classe funcional da New York Heart Association - NYHA –, fração de ejeção de ventrículo esquerdo e terapêutica medicamentosa em uso).

Para avaliar a usabilidade, diversos instrumentos são utilizados na avaliação de aplicativos móveis em saúde para mensurar a eficácia, eficiência e satisfação da ferramenta tecnológica para o público-alvo.(23) Nessa investigação, optou-se por utilizar o instrumento Smartphone Usability questionnaiRE (SURE),(24) por ser característico para medir a usabilidade em aplicações em smartphone e possuir itens avaliativos úteis para melhor compreensão da qualidade do software elaborado. Estudos brasileiros anteriores empregaram o SURE satisfatoriamente.(25, 26, 27)

O SURE é um instrumento criado no Brasil por meio de revisão sistemática e pela Teoria de Resposta ao Item. É constituído de 31 itens com opções de respostas por meio de uma escala do tipo Likert, oferecendo as alternativas discordo, discordo parcialmente, concordo, concordo totalmente e a opção adicional de não se aplica, enumerando as respostas em 1, 2, 3, 4 e 0, respectivamente. A soma da pontuação de cada item corresponde ao valor de usabilidade. O escore total é de até 124 pontos.(24)

Os escores obtidos pelo SURE para cada participante foram categorizados conforme os níveis de usabilidade do instrumento: nível 30 (apresentam possibilidade de discordar totalmente ou parcialmente); nível 40 (apresentam possibilidade de discordar); nível 50 (deixam de concordar parcialmente a fortemente); nível 70 (concordam fortemente); e nível 80 (concordam totalmente).(24)

Após o preenchimento dos instrumentos, foram feitas três questões abertas aos participantes, com o intuito de buscar sugestões/melhorias para o uso: O que você achou do aplicativo? Sentiu alguma dificuldade de manusear? Você indicaria o aplicativo?

Os dados foram organizados em planilha Excel versão Microsoft Windows e analisados no software estatístico IBM Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) for Windows 22.0. As variáveis categóricas foram apresentadas de forma descritiva, por frequência simples e percentual, e as numéricas por média e desvio-padrão. As respostas das questões abertas foram agrupadas, e a síntese dos comentários sobre o aplicativo estão apresentadas em quadro.

O estudo respeitou as normas nacionais e internacionais de pesquisa. O projeto foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição selecionada 4.620.748 (Certificado de Apresentação de Apreciação Ética: 42685021.0.0000.5183). Todos os participantes receberam informações verbais e escritas sobre o estudo e formalizaram sua participação mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados

Participaram 16 pessoas com IC, dentre os quais 62,5% residiam na cidade de João Pessoa, apresentavam média de idade de 53,44 ± 9,21 anos com variação de 38 a 68; 62,5% eram do sexo masculino, 37,5%, brancos, 62,5% casados/união estável, 100% com Ensino Fundamental completo, 62,5% com renda de um salário mínimo, apenas 25% ativos economicamente. Com relação às condições clínicas, 75% possuíam etiologia não isquêmica, 43,8% estavam na classe funcional II da NYHA, com média de fração de ejeção de ventrículo esquerdo de 39,50 ± 19,70%, em uso de medicamentos betabloqueadores e diuréticos. A figura 1 apresenta a interface do aplicativo TumTum.

Figura 1
Interface do aplicativo TumTum

No que se refere à avaliação da usabilidade, a média do SURE foi de 109,75 ± 3,47, com o mínimo de 102 e o máximo de 114 pontos. A usabilidade foi categorizada no nível 80. A tabela 1 apresenta a descrição da frequência de resposta dos participantes por item do instrumento de usabilidade.

Tabela 1
Descrição dos itens que compõem o Smartphone Usability questionnaiRE

O quadro 1 apresenta os comentários dos participantes sobre o uso do protótipo de aplicativo. Observam-se potenciais benefícios de apoio do TumTum para a autogestão da IC. Importa destacar que todos indicariam seu uso.

Quadro 1
Comentários sobre o aplicativo TumTum

Discussão

Este estudo avaliou a usabilidade de um protótipo de aplicativo móvel para promoção do autocuidado de pessoas com IC. No melhor do conhecimento dos autores, este é o primeiro no cenário brasileiro apoiado por um instrumento específico para smartphone. O TumTum apresentou concordância total entre os participantes investigados, classificando-o como uma inovação tecnológica de boa qualidade e eficácia de uso pela facilidade de manuseio, organização dos menus, textos de fácil entendimento e fluxo de navegação, o que representa uma excelente usabilidade para o protótipo e perspectivas para uso na prática clínica.

Corroborando esta pesquisa, outra investigação também avaliou a usabilidade de aplicativo para o cuidado com o pé diabético.(25) Embora o escore geral de 96,1 pontos entre os usuários finais tenha sido inferior ao encontrado em nosso estudo, os itens avaliados apresentaram pontuações que variaram entre concordar fortemente (nível 70) a totalmente (nível 80), indicando bons níveis usabilidade.(25) Outro estudo evidenciou média geral de usabilidade de 105,8 ± 7,44 pontos em protótipo de aplicativo para pessoas com hipertensão arterial.(26) Benchmarking de aplicativos móveis destinados a pessoas com IC identificou ampla variedade de dispositivos em plataformas on-line, principalmente no idioma inglês, sendo a maioria no nível 80 de usabilidade nos itens avaliativos do SURE.(14)

Níveis satisfatórios de usabilidade também foram encontrados em aplicativo que avaliou o monitoramento de balanço hídrico para pessoas com IC por meio da avaliação pela System Usability Scale (SUS), porém não incluiu orientações educativas em saúde.(16) Outras pesquisas testaram a usabilida-de de aplicativos com foco em sinais vitais, exames laboratoriais, terapêutica farmacológica e em grupo focal com pacientes e enfermeiros.(28, 29) Destaca-se que a SUS é um instrumento genérico para medir a a facilidade de uso dos sistemas, sendo recomendável a utilização de instrumentos de avaliação específicos para aplicativos de saúde móvel.(30)

A literatura destaca que o uso de aplicativos móveis tem potencial para apoiar o autogerenciamento da IC e recomenda funcionalidades fáceis de usar, informações educacionais, registro diário do peso corporal, mensagens de texto como lembretes e monitoramento de sintomas. Ter acesso a recursos personalizados pode motivar os indivíduos a se engajarem nas habilidades de autogestão prescritas alcançando melhores desfechos em saúde.(31)

Estudo que avaliou as funcionalidades de 34 aplicativos móveis disponíveis comercialmente para apoiar o monitoramento de sintomas de IC e gerenciamento do autocuidado, por meio da Mobile Application Rating Scale (MARS), evidenciou fragilidades na qualidade, conteúdo ou funcionalidade dos aplicativos,(32) o que reforça a necessidade de validar o conteúdo dos aplicativos com especialistas e pacientes no desenvolvimento de tecnologias mHealth.(19)

Revisão integrativa que analisou dados de usabilidade de aplicativos móveis de pessoas com IC destaca pesquisas conduzidas em países da América do Norte, Europa e escassez na América Latina. Os aplicativos avaliados foram classificados com design de baixa qualidade, incompletos e com falhas.(11) Nessa pesquisa, os itens avaliados evidenciam que os usuários concordaram totalmente com o conteúdo e as funções apresentadas e, por unanimidade, mostraram satisfação com a fácil leitura e linguagem utilizada nos textos. Esses recursos são apontados como ferramentas facilitadoras de usabilidade para o uso de aplicativos móveis.(12)

Compreende-se que o letramento digital de pessoas com IC é um desafio para enfermeiros, profissionais de saúde e cuidadores. Evidências apontam baixos níveis de letramento em saúde nesta população, sendo uma potencial barreira para o manejo da doença, com consequências negativas, como maior hospitalização e mortalidade.(33) Dessa forma, acredita-se que, pelos resultados alcançados, esse aplicativo apresenta potencial para melhorar os níveis necessários de conhecimento para manejo clínico da IC.

No geral, os participantes relataram que o aplicativo será benéfico para a autogestão da doença. Eles não encontraram problemas para manuseá-lo, sentiram-se confortáveis e indicariam seu uso. Destaca-se que a usabilidade permaneceu no nível 80 do SURE, corroborando estudo que aponta o interesse de adultos e idosos em acessar aplicativos de saúde com recursos educacionais úteis e fáceis para atender suas necessidades.(34)

Em acréscimo, investigação que avaliou as perspectivas de pessoas com IC para usar a tecnologia de saúde móvel evidenciou que a usabilidade do aplicativo é importante para fornecer informações precisas, abrangentes e que possam ser utilizadas para o autocuidado diário. Entre as barreiras relatadas estão a proteção de dados e os gastos associados para o uso.(35) Considerando esses aspectos, o aplicativo TumTum será disponibilizado gratuitamente em lojas virtuais e as informações educacionais poderão ser acessadas de forma offline, reduzindo dificuldades de custo financeiro com acesso à internet. Esforços serão empreendidos para garantir a preservação dos dados pessoais dos usuários, de acordo com a legislação vigente no país.

Nesse contexto, a tecnologia em saúde móvel oferece a oportunidade de o usuário ter mais controle sobre sua saúde e acesso a informações; desenvolver habilidades para alcançar a resolução de problemas e tomar decisão em relação ao autocuidado por meio da capacidade de entender, avaliar, usar e transformar processos, favorecendo a adesão ao tratamento, com redução do número de hospitalizações e busca por serviços de emergência em saúde.(36)

Embora não tenha sido aplicado um instrumento específico para verificar o nível de letramento digital, esta pesquisa apresenta como limitação a inclusão apenas de pessoas com Ensino Fundamental completo, o que restringiu o uso do aplicativo. O tempo de navegação também foi limitado. Pesquisas futuras devem considerar a participação de pessoas sem escolaridade, com a inclusão de recursos de informação acessíveis a esse público e, ainda, com amostras maiores e em diferentes cenários de assistência à saúde. Ademais, por ser um estudo transversal os resultados encontrados devem ser avaliados com cautela.

Os achados são promissores e apresentam implicações para o cuidado de enfermagem cardiovascular. As pessoas com IC foram incluídas em etapas prévias de estruturação de conteúdo e testes de uso, aumentando as chances de o aplicativo ser adotado na prática clínica. Estudos subsequentes serão realizados para verificar a aceitabilidade, viabilidade e impacto dessa tecnologia no autocuidado e com desfechos em saúde dessa população.

Conclusão

O protótipo de aplicativo TumTum apresentou bons níveis de usabilidade, indicando que os usuários finais concordaram totalmente com as orientações oferecidas pela inovação tecnológica, atendendo às recomendações heurísticas de satisfação e eficiência de uso. Investigações adicionais devem ser conduzidas para avaliar a eficácia da tecnologia no mundo real e potenciais melhorias para qualidade do software a médio e longo prazos.

Agradecimentos

Este estudo contou com apoio financeiro da Chamada n. 03/2020 Produtividade em Pesquisa PROPESQ/PRPG/UFPB código do projeto de pesquisa PVG13241-2020.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Mar 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    05 Dez 2023
  • Aceito
    14 Out 2024
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