Open-access Avaliação do conhecimento sobre papilomavírus humano entre estudantes universitários de enfermagem

Evaluación del conocimiento sobre virus del papiloma humano en estudiantes universitarios de enfermería

Resumo

Objetivo:  Avaliar o conhecimento de estudantes universitários de enfermagem sobre o papilomavírus humano.

Métodos:  Estudo descritivo, transversal, quantitativo. Participaram 264 estudantes dos Cursos de Graduação em Enfermagem de uma Instituição de Ensino Superior do interior do estado de São Paulo. Realizada entre agosto e dezembro de 2022, a coleta de dados contou com dois instrumentos, sendo um questionário sociodemográfico e de hábitos de vida e o outro um questionário de medida de conhecimento do papilomavírus humano. Foi feita análise estatística descritiva, e foram aplicados testes estatísticos apropriados, sendo adotado nível de significância de 5% (p=0,05).

Resultados:  Houve lacunas no conhecimento sobre o vírus, incluindo fatores sobre sintomas, transmissão, tratamento e vacinação. Alunos dos últimos anos e que já tinham cursado a disciplina de saúde da mulher, que abordou aspectos sobre o papilomavírus humano, obtiveram maior média de acertos, atingindo 76,1%. Entretanto, a média geral foi de 60,8%.

Conclusão:  Os alunos dos últimos anos tiveram desempenho razoável no questionário de conhecimento do HPV. Sugere-se ocorrer uma inclusão gradual de todos os aspectos e informações sobre o papilomavírus humano nas Instituições de Ensino Superior, desde os primeiros anos dos cursos, de maneira inderdisciplinar, abordando suas implicações para a saúde, incidências, agravantes, dados populacionais e complexidades de forma integrada. Posteriormente, de forma mais abrangente e aprofundada, esses temas podem ser explorados em detalhes, contemplando aspectos como sintomas, prevenção, diagnóstico e tratamentos.

Descritores
Papillomavirus humano; Infecções por papillomavirus; Neoplasias do colo do útero; Estudantes de enfermagem; Conhecimento; Saúde da mulher; Inquéritos e questionários

Abstract

Objective:  To assess undergraduate nursing students’ knowledge about the human papillomavirus.

Methods:  Descriptive, cross-sectional, quantitative study. A total of 264 undergraduate nursing students from a higher education institution in the interior of the state of São Paulo participated in the study. Data collection was conducted between August and December 2022 with the use of two instruments: a sociodemographic and lifestyle questionnaire, and a questionnaire measuring knowledge of the human papillomavirus. Descriptive statistical analysis was performed, and appropriate statistical tests were applied, adopting a significance level of 5% (p=0.05).

Results:  Gaps in knowledge about the virus have been found, including factors on symptoms, transmission, treatment, and vaccination. Students in their final years who had already taken the women’s health course covering aspects of the human papillomavirus obtained a higher average of correct answers, reaching 76.1%. However, the overall average was 60.8%.

Conclusion:  Students in the last years performed reasonably well on the HPV knowledge questionnaire. A gradual inclusion of all aspects and information about the human papillomavirus in Higher Education Institutions is suggested, starting in the first years of the courses in an interdisciplinary manner, addressing its implications for health, incidence, aggravating factors, population data and complexities in an integrated manner. These topics can be explored later in detail, in a more comprehensive and in-depth manner, covering aspects such as symptoms, prevention, diagnosis and treatments.

Resumen

Objetivo:  Evaluar el conocimiento de estudiantes universitarios de enfermería sobre el virus del papiloma humano.

Métodos:  Estudio descriptivo, transversal, cuantitativo. Participaron 264 estudiantes de la carrera de enfermería de una institución de educación superior del interior del estado de São Paulo. Realizada entre agosto y diciembre de 2022, la recopilación de datos contó con dos instrumentos: un cuestionario sociodemográfico y de hábitos de vida y un cuestionario de medida de conocimiento del virus del papiloma humano. Se realizó análisis estadístico descriptivo y se aplicaron pruebas estadísticas adecuadas, con un nivel de significación de 5 % (p=0,05).

Resultados:  Hubo vacíos de conocimiento sobre el virus, que incluyeron factores sobre síntomas, transmisión, tratamiento y vacunación. Los alumnos de los últimos años y que ya habían cursado la materia de salud de la mujer, que aborda aspectos sobre el virus del papiloma humano, obtuvieron un mayor promedio de aciertos, con un 76,1 %. Sin embargo, el promedio general fue de 60,8 %.

Conclusión:  Los alumnos de los últimos años tuvieron un resultado razonable en el cuestionario de conocimiento sobre el HPV. Se sugiere incluir gradualmente todos los aspectos e información sobre el virus del papiloma humano en las instituciones de educación superior, desde los primeros años de la carrera, de manera interdisciplinaria, que aborde las consecuencias para la salud, incidencias, agravantes, datos poblacionales y complejidades de forma integrada. Posteriormente, estos temas pueden ser estudiados con más detalles, de forma más amplia y profunda, contemplando aspectos como síntomas, prevención, diagnóstico y tratamientos.

Descriptores
Virus del papiloma humano; Infecciones por papillomavirus; Neoplasias del cuello uterino; Estudiantes de enfermería; Conocimiento; Salud de la mujer; Encuestas y cuestionarios

Introdução

O papilomavírus humano (HPV) é um vírus de transmissão sexual de alta incidência, classificado como uma Infecção Sexualmente Transmissível que afeta a pele e as mucosas. Apresenta-se como lesões visíveis/clínicas ou lesões subclínicas, com ausência de sintomas aparentes.(1) O HPV é mais comum em jovens, após o início da atividade sexual e pode permanecer latente por meses ou anos.(1,2)

Cerca de um terço dos homens acima de 15 anos portam pelo menos um tipo de HPV genital, e um em cada cinco pode estar infectado com um ou mais tipos considerados de alto risco ou oncogênicos.(3) No caso do câncer cervical feminino, houve mais de 600 mil novos casos globalmente em 2020, causando mais de 300 mil mortes.(4) No Brasil, entre 2023 e 2025, estimam-se 17 mil novos casos anuais, com incidência de 13,25 casos a cada 100 mil mulheres.(5) Isso reflete um sério problema de saúde pública, relacionado à persistência de infecções pelos tipos 16 e 18 do HPV, responsáveis por cerca de 70% dos cânceresde útero.(5)

Quanto à gravidade do vírus, a imunização é essencial, pois está diretamente ligada às lesões precursoras do câncer. Ofertada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014, a vacina é oferecida aos meninos e meninas de 9 a 14 anos, com duas doses espaçadas por 6 meses. Pacientes oncológicos e transplantados também são elegíveis. O Ministério da Saúde brasileiro destaca a vacina como essencial para prevenir o câncer cervical, almejando vacinar 80% da população-alvo e reduzindo a incidência desse câncer.(6) Para os homens, a vacinação pode prevenir cerca de 80,3% dos subtipos de HPV associados ao câncer de pênis.(7)

Embora a vacina seja eficaz, o rastreamento da doença é crucial na prevenção de suas complicações. O exame citopatológico, conhecido como Papanicolau, é recomendado pelo Ministério da Saúde para o rastreamento de lesões precursoras para mulheres entre 25 e 64 anos com atividade sexual ativa.(8) Mulheres vacinadas devem realizar o exame, pois a vacina não protege contra todos os tipos oncogênicos do HPV.(9)

O teste de DNA-HPV é importante no rastreamento viral, pois é mais sensível que o Papanicolau. Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2014, o teste DNA-HPV é mais eficaz na detecção, o que reduz índices de falsos-negativos.(10) No Brasil, estudo realizado em um município de São Paulo comprovou que o teste é mais custo-efetivo na detecção precoce dos casos de câncer de colo de útero.(11) Contudo, a implementação nacional ainda requer reorganização das práticas de saúde, ajustando população atendida e intervalos de teste.(12)

O acesso ao Papanicolau pelo SUS também enfrenta desafios, com cobertura abaixo de 80% e desafios no agendamento.(13) Nos países desenvolvidos, a adesão a esse exame também tem declinado, e esse fato tem sido atribuído aos horários limitados das clínicas e à indisponibilidade de profissionais da saúde.(14)

Considerando as intervenções na Atenção Primária à Saúde, ressalta-se a importância da ação dos enfermeiros, que lideram a elaboração de protocolos, encaminhamentos e assistência.(15) Na abordagem do HPV, esses profissionais realizam ações educativas, de prevenção e de diagnóstico e consultas sobre saúde sexual e da mulher.(16)

Contudo, estudos apontam lacunas no conhecimento sobre o HPV entre os graduandos de cursos da área da saúde, no Brasil e outros países desenvolvidos e em desenvolvimento. A falta de informação abrange desde sintomas até a vacinação, gerando preocupações sobre atuação desses futuros profissionais na prevenção das IST.(17,18)

Considerando a infecção e a reinfecção pelo vírus do HPV e sendo o enfermeiro um elemento-chave no combate às Infecções Sexualmente Transmissíveis, cabe aos graduandos ter o conhecimento adequado sobre doenças causadas pelo HPV e seus agravos, para o sucesso na orientação sobre hábitos sexuais futuros. Com isso, o presente estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento de estudantes universitários de enfermagem sobre o HPV. A investigação a respeito das lacunas de conhecimento sobre o tema almeja agregar mudanças positivas no ensino e contribuir na compreensão das necessidades formativas dos estudantes.

Métodos

Trata-se de estudo descritivo, transversal, quantitativo realizado em uma Instituição de Ensino Superior no interior do Estado de São Paulo, que oferece dois Cursos de Graduação em Enfermagem, sendo eles um Bacharelado e um Bacharelado e Licenciatura. Foram critérios de inclusão: estar devidamente matriculado em um dos cursos e ter ≥ 18 anos.

Para caracterizar os participantes, utilizou-se um questionário sociodemográfico e de hábitos de vida revisado por duas profissionais de saúde com expertise na área. Para avaliar o conhecimento dos participantes sobre o HPV, utilizou-se o questionário de medida de conhecimento do HPV, adaptado, contendo 29 perguntas de verdadeiro ou falso, separadas em três partes: a primeira sobre conhecimento geral sobre o HPV, a segunda sobre aspectos do teste do HPV e a terceira acerca do conhecimento sobre a vacinação contra o vírus.(19)

A coleta de dados foi realizada por uma das pesquisadoras com 264 estudantes, sendo 156 do Bacharelado e 108 do Bacharelado e Licenciatura, entre agosto e dezembro de 2022. Os convites foram realizados previamente às aulas letivas. O tempo médio de participação foi de 25 minutos. Para evitar duplicações, realizou-se a pesquisa uma única vez por turma. Os questionários foram preenchidos e entregues em envelopes lacrados pelos alunos.

Os dados foram inseridos em planilhas do Microsoft Excel 2016 por digitação dupla. Utilizouse análise estatística descritiva, empregando média, mediana, desvio-padrão, mínimo e máximo para variáveis quantitativas, e frequência percentual para as variáveis em geral. Comparativamente, foram utilizados o teste exato de Fisher e o teste de KruskalWallis para diferentes grupos e variáveis. O nível de significância adotado foi de 5% (p=0,05). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa da Instituição de Ensino Superior selecionada (5.513.273), recebendo o Protocolo de Pesquisa com Registro CAAE nº 60076722.0.0000.5393.

Resultados

Participaram do estudo 232 (87,9%) mulheres e 31 (11,7%) homens. A média da idade foi de 21,8 anos, variando de 18 a 49 anos, com desvio-padrão de 4. A maioria se identificou como branca (69,7%), solteira(o) (95,5%) e com renda familiar de até cinco salários mínimos (70,0%). Quanto à religião, 45,1% eram católicos, 18,5% praticavam outras religiões e 25% não tinham religião. Quanto aos hábitos de vida, a maioria (90,9%) afirmou não ser fumante, 7,6% indicaram ser tabagistas e 1,5% não respondeu. Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, 40,5% declararam consumo mensalmente e 31,1% semanalmente em todos os anos do curso, e 18,9% dos participantes relataram não consumir bebida alcoólica. Realizou-se comparação entre as respostas corretas nos três blocos do questionário entre os cinco anos de graduação. Conforme aplicação do teste de Kruskal-Wallis, houve significância estatística (p<0,001) na comparação geral entre os anos para os 29 itens do questionário, e o número de acertos aumentou a partir do terceiro ano. Sobre o conhecimento do HPV, houve diferença significante entre os anos do curso em 14 itens (2, 6, 8, 11, 12, 15, 16, 21, 24, 25, 27, 28 e 29), com p<0,05 em cada caso (Tabela 1). Os itens não respondidos foram excluídos da análise.

Tabela 1
Acertos distribuídos entre os estudantes de graduação em enfermagem por item no questionário de medida de conhecimento do papilomavírus humano

As médias de acertos no questionário de conhecimento do HPV variaram entre os anos: o quinto ano do curso obteve a maior média (76,1%), enquanto o segundo teve a menor (55,0%). Ainda, 20,2% dos alunos optaram por responder “não sei” (Tabela 2). É relevante notar que, embora não tenha sido objetivo comparar o conhecimento entre os estudantes do curso, observou-se que aqueles no último ano demonstraram maior familiaridade com o tema.

Tabela 2
Respostas apresentadas por ano no questionário de medida de conhecimento do papilomavírus humano

Discussão

Os participantes apresentaram perfis semelhantes aos graduandos da área da saúde de outros estudos, predominando sexo feminino, estado civil solteiro e faixa etária entre 20 e 24 anos.(20,21) Quanto aos hábitos, a maioria (90,9%) não relatou tabagismo, e 40,5% indicaram consumo mensal de álcool, sendo 31,1% com frequência semanal. A literatura aponta que parcela significativa de estudantes da saúde faz uso excessivo de álcool, principalmente mulheres, e o tabagismo também é observado em proporções consideráveis,(20) apesar de ter sido menos declarado neste grupo.

A média de acertos no instrumento de medida de conhecimento do HPV foi de 60,8%. Estudantes da área da saúde geralmente têm baixo conhecimento sobre o HPV e apresentam evolução ao longo do curso.(17,22) No bloco inicial (16 itens), foi apresentada alta taxa de acertos (95%) na afirmação sobre a relação do HPV com o câncer de colo de útero, apesar de outros estudos indicarem que estudantes universitários têm menos conhecimento sobre as consequências do HPV, especialmente em relação ao câncer cervical.(23)

Quanto à prevenção do HPV pelo uso do preservativo, 96,5% responderam corretamente. Ainda assim, ressalta-se a importância de orientar jovens e adultos sobre os riscos do HPV, tanto para cânceres quanto para infecções graves e de difícil controle e sobre a importância do uso do preservativo. Embora haja maior taxa de uso de preservativos no primeiro encontro sexual entre estudantes universitários, tal comportamento diminui ao longo do tempo. Relacionamentos estáveis tendem a apresentar menor uso, e os jovens, muitas vezes, têm baixa percepção dos riscos das Infecções Sexualmente Transmissível.(24)

Considerando a relação entre HPV e HIV, os discentes dos últimos anos demonstraram maior conhecimento em relação aos alunos dos anos iniciais. Estudos mostram que 73% dos discentes associam cânceres de colo de útero com HPV.(25) Contudo, neste estudo, o conhecimento apresentou fragilidades. A média de acerto relacionado ao tema foi de 66,1%, confirmando que há necessidade de aprofundamento no processo de aprendizagem.

A questão sobre a probabilidade de contrair HPV em algum momento da vida também gerou equívocos, com 60,5% dos alunos respondendo incorretamente. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) de 2023 indicam que cerca de 80% das mulheres sexualmente ativas podem contrair HPV em algum momento, com números ainda maiores para os homens.(6) Dados na literatura sugerem que, devido ao baixo conhecimento sobre a transmissão do HPV, o público universitário pode ter pouca informação sobre a incidência do vírus.(24) Os resultados deste estudo mostraram que a maioria dos participantes não sabe sobre a necessidade de tratamento do vírus, reforçando limitações no entendimento sobre o tratamento do HPV. É importante ressaltar que a maioria das infecções pelo HPV é assintomática e transitória, não requerendo um tratamento específico para eliminar o vírus, mas tratamentos individualizados para cada lesão.(1) Essa percepção equivocada dos estudantes reflete não apenas falhas no processo de aprendizagem sobre o tema, mas também pode influenciar em práticas e recomendações inadequadas realizadas por esses futuros profissionais.

Quanto ao segundo bloco do questionário sobre o HPV, relacionado ao teste para detecção do vírus, revelou-se média de acertos que aumenta conforme avança o ano de graduação. Apesar de ser mais econômico e eficiente que as citologias, sua divulgação é limitada, principalmente por sua indisponibilidade no SUS. Essa lacuna no conhecimento também é compartilhada por profissionais e estudantes da área da saúde, como aponta a literatura.(26)

Os participantes apresentaram dificuldade em responder se o teste de HPV pode indicar a duração da infecção pelo vírus. A resposta correta, “falso”, reflete que o teste detecta diferentes tipos de HPV, inclusive os de alto risco, mas não determina o tempo de infecção.(12) A ausência do teste no SUS influencia o conhecimento dos alunos na área da saúde, com insuficiência sobre o assunto na graduação, assim como a população em geral.

Os alunos demonstraram conhecimento satisfatório ao negarem que um resultado positivo no teste de HPV sugira câncer de colo de útero e compreenderem que o teste não é utilizado para indicar a vacinação contra o HPV. Contudo, o conhecimento sobre o teste do HPV necessita maior solidez durante a formação.

O último bloco do questionário de medida de conhecimento sobre o HPV é composto de sete itens e tem como foco a imunização contra o vírus. Nele, os alunos do quinto ano novamente apresentaram a maior média de acertos, enquanto os alunos dos segundos anos dos cursos apresentaram a menor.

Em geral, os alunos mostraram bom desempenho em algumas questões sobre a imunização contra o vírus. Itens que relacionam a vacina ao exame de Papanicolau, outras Infecções Sexualmente Transmissíveis e o desenvolvimento de câncer de colo de útero tiveram mais de 88% de acertos, indicando amplo conhecimento sobre a vacinação e tópicos relacionados.

No entanto, houve fragilidade em algumas respostas. Por exemplo, a relação entre a proteção da vacina e verrugas genitais: 41,4% dos participantes indicaram a resposta “não sei”, enquanto 23,0% não souberam relacionar a ação da vacina com a proteção contra verrugas genitais. Atualmente, no Brasil, três vacinas contra o vírus estão aprovadas, com duas delas protegendo contra os tipos de HPV de alto e baixo risco, ou seja, aqueles ligados às verrugas genitais.(1)

Apenas 51,9% dos alunos acertaram que as vacinas protegem contra a maioria dos cânceres de colo de útero, mostrando lacunas na compreensão da cobertura vacinal contra o HPV. Situação semelhante foi observada na pergunta sobre a quantidade de doses da vacina, quando apenas 18,4% acertaram ao indicar como “falso” que o correto são três doses. Tal confusão pode estar relacionada às atualizações do esquema vacinal, que, desde 2016, é realizada em duas doses, com exceções somente para alguns grupos específicos.(1)

Os participantes demonstraram baixo conhecimento (38,7%) sobre a eficácia das vacinas contra o HPV quando administradas em indivíduos sem histórico de relações sexuais. Atualmente, o programa de vacinação no SUS abrange crianças entre 9 e 14 anos, visando oferecer proteção na ausência de atividade sexual, destacando a importância da imunização precoce.(27) Essa lacuna de conhecimento merece atenção, pois pode afetar a prática profissional dos futuros enfermeiros, responsáveis por orientar sobre a prevenção e a imunização contra o HPV.

Os resultados evidenciam lacunas no conhecimento dos alunos de enfermagem sobre o HPV e suas medidas preventivas. Isso ressalta a necessidade de revisar e atualizar o conteúdo desde os estágios iniciais da formação. Formar profissionais capacitados para educar pacientes sobre o HPV e prevenir o câncer relacionado é essencial para a saúde pública e reflete a qualidade dos serviços de enfermagem. Reconhecer deficiências no processo de ensino é crucial para orientar as ações dos futuros profissionais de enfermagem.

Conclusão

Os alunos dos últimos anos tiveram desempenho razoável no questionário de conhecimento do HPV, mas não atingiram média acima de 70% em questões específicas, especialmente sobre tratamento, testes de identificação do vírus e vacinação. Essas lacunas destacam a necessidade de melhorar os programas educacionais em enfermagem e implementar estratégias mais eficazes para abordar as deficiências no conhecimento sobre HPV. Assim, a inclusão gradual de todos os aspectos e informações sobre o HPV e as Infecções Sexualmente Transmissíveis, desde os primeiros anos dos cursos, de maneira interdisciplinar é desejável, abordando suas implicações para saúde, incidência, agravantes, dados epidemiológicos e complexidades de forma articulada. De maneira mais abrangente, explorar e detalhar acarretam revisões importantes no ensino, que contemplam aspectos da prevenção, dos sintomas, do diagnóstico e dos tratamentos, ampliando a conscientização sobre os perigos do HPV. Isso não só terá um papel formativo, mas também reforçará a importância do HPV como uma questão de saúde pública.

Agradecimentos

Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo apoio e financiamento da pesquisa.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Mar 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    20 Fev 2024
  • Aceito
    04 Set 2024
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