Open-access Infecções relacionadas à assistência à saúde em Unidade de Terapia Intensiva durante a pandemia de COVID-19

Infecciones relacionadas con la atención de salud en una Unidad de Cuidados Intensivos durante la pandemia de COVID-19

Resumo

Objetivo:  Descrever a ocorrência de infecções relacionadas à assistência em saúde nas primeira e segunda ondas da pandemia da COVID-19 e analisar suas relações com os indicadores gerenciais em uma unidade de terapia intensiva.

Métodos:  Estudo documental retrospectivo, realizado durante as fases epidemiológicas da pandemia de COVID-19 utilizando a base de dados dos pacientes internados na unidade de terapia intensiva de um hospital da iniciativa privada em São Paulo. Os critérios de inclusão foram os pacientes internados no período de março de 2020 a agosto de 2021, com idade acima de 18 anos, diagnóstico de COVID-19 e apresentaram infecções relacionadas à assistência. Foram realizados análise descritiva para as variáveis demográficas e clínicas e testes de Qui-quadrado de Pearson e exato de Fisher para as associações. As análises consideraram o nível de significância de 5%.

Resultados:  Destacamos a pneumonia associada à ventilação mecânica como a topografia mais prevalente entre as infecções. Foram também observados considerável aumento nos índices de infecção e uso de dispositivos invasivos desde a primeira à segunda ondas e uma correlação positiva das infecções com os indicadores de ocupação leitos/dia e pacientes/dia.

Conclusão:  Aumentaram as infecções e uso de dispositivos invasivos da primeira para a segunda ondas da COVID-19 com elevação na ocorrência de eventos adversos relacionados à assistência entre os períodos observados. O aumento nos números de leitos, internações e ocupação também mostrou um impacto positivo no aumento das infecções na unidade.

Descritores
Segurança do paciente; Infecção hospitalar; Infecções por coronavírus; Pandemias; Unidades de Terapia Intensiva

Abstract

Objective:  To describe the occurrence of healthcare-associated infections in the first and second waves of the COVID-19 pandemic and analyze their correlations with management indicators in an intensive care unit.

Methods:  Retrospective documentary study conducted during the epidemiological waves of the COVID-19 pandemic using the database of patients admitted to the intensive care unit of a private hospital in São Paulo. Inclusion criteria comprised patients admitted between March 2020 and August 2021, aged over 18 years, diagnosed with COVID-19, and presenting healthcare-associated infections. Descriptive analysis was performed for demographic and clinical variables, and Pearson’s chi-square and Fisher’s exact tests were used for associations. A significance level of 5% was considered in the analyzes.

Results:  Ventilator-associated pneumonia is highlighted as the most prevalent topography among infections. A considerable increase in infection rates and use of invasive devices were also observed from the first to the second wave, as well as a positive correlation between infections and bed/day and patient/day occupancy indicators.

Conclusion:  Infections and the use of invasive devices increased from the first to the second wave of COVID-19, as well as the occurrence of adverse events related to care between the periods. The increase in the number of beds, hospitalizations and occupancy also showed a positive impact on the increase in infections in the unit.

Resumen

Objetivo:  Describir la incidencia de infecciones relacionadas con la atención de salud en la primera y segunda ola de la pandemia de COVID-19 y analizar la relación con los indicadores gerenciales en una Unidad de Cuidados Intensivos.

Métodos:  Estudio documental retrospectivo, realizado durante las fases epidemiológicas de la pandemia de COVID-19, utilizando la base de datos de los pacientes internados en la Unidad de Cuidados Intensivos de un hospital privado en São Paulo. Los criterios de inclusión fueron: pacientes internados durante el período de marzo de 2020 a agosto de 2021, edad superior a 18 años, diagnóstico de COVID-19 y presentación de infecciones asociadas a la atención. Se realizó un análisis descriptivo para las variables demográficas y clínicas, y pruebas de ji cuadrado de Pearson y exacto de Fisher para las asociaciones. Los análisis consideraron un nivel de significación del 5 %.

Resultados:  Se destacó la neumonía asociada a la ventilación mecánica como la topografía más predominante de las infecciones. También se observó un aumento considerable de los índices de infecciones y el uso de dispositivos invasivos de la primera a la segunda ola, y una correlación positiva de las infecciones con los indicadores de ocupación de camas/día y pacientes/día.

Conclusión:  Las infecciones y el uso de dispositivos invasivos aumentaron de la primera a la segunda ola de COVID-19, con un aumento de la incidencia de eventos adversos asociados a la atención durante los períodos observados. El aumento de la cantidad de camas, internaciones y ocupación también mostró un impacto positivo en el aumento de las infecciones en la unidad.

Descriptores
Seguridad del paciente; Infección hospitalaria; Infecciones por coronavirus; Pandemias; Unidades de cuidado intensivo

Introdução

A pandemia da COVID-19 causada pelo severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2) teve um considerável impacto nos cuidados de saúde em todo o mundo. Após rápida disseminação, e devido à gravidade da doença, ela afetou milhões de pessoas levando à sobrecarga das instituições hospitalares, principalmente as unidades de terapia intensiva (UTIs).(1)

Em processos mais complexos, a situação dos pacientes com COVID-19 exigiu tomadas de decisão rápidas devido à necessidade de estabelecer medidas de segurança e avaliar os riscos de exposição e infecção tanto da equipe de profissionais como de outros pacientes.(2, 3) Assim como ocorreu em vários países, os casos de COVID-19 no Brasil foram se elevando a partir do primeiro caso diagnosticado na cidade de São Paulo. De acordo com os dados de notificação do Ministério da Saúde, o avanço na quantidade de óbitos ocorreu em ondas: a primeira, da 9ª à 45ª semanas epidemiológicas de 2020 e a segunda, mais longa e mais letal, da 46a semana de 2020 à 51a semana de 2021.(4)

Os pacientes acometidos pela doença necessitavam de monitoramento rigoroso e elevados níveis de cuidados. Estes incluíram cuidados ventilatórios tais como oxigênio nasal de alto fluxo, ventilação mecânica não invasiva, intubação e ventilação mecânica invasiva; além disso, uso cateteres venosos centrais para administrar medicamentos e dispositivos vesicais para monitorar o débito urinário, elevando assim o risco de infecção relacionada à assistência à saúde (IRAS).(2, 5, 6)

Em pacientes gravemente enfermos, as IRAS são relativamente comuns representando eventos adversos à segurança do cuidado; sua ocorrência aumenta a morbimortalidade e os custos da assistência. Estudos apontaram um custo estimado ao sistema de saúde global de 8,3-11,5 bilhões de dólares por ano.(7) Outros estudos mostraram que no período pandêmico o aumento de IRAS estava relacionado aos fatores de risco de pacientes, tais como idade e comorbidades, uso de dispositivos, ventilação mecânica e agentes imunossupressores além do adoecimento dos profissionais.(1, 2, 8, 9)

A compreensão da incidência de IRAS em UTIs durante a pandemia é fundamental para avaliar o impacto da COVID-19 nas práticas de controle de infecções e nos processos de melhoria. Além disso, o impacto desafia os gestores a instaurar estratégias seguras para situações que afetam o sistema de saúde. Porém, tais estudos são escassos e ainda não há estudos sobre a evolução temporal através das ondas epidemiológicas ocorridas no Brasil.(10) Isto motivou as seguintes questões de pesquisa: qual é a ocorrência de IRAS nas ondas epidemiológicas da pandemia de COVID-19 e qual é a relação dessas infecções com os indicadores da UTI? Portanto, os objetivos deste estudo foram descrever a ocorrência de IRAS nas primeira e segunda ondas da pandemia de COVID-19 e analisar sua correlação com os indicadores gerenciais em uma UTI.

Métodos

Este estudo documental retrospectivo, descritivo e exploratório foi realizado durante a primeira e segunda ondas da COVID-19 usando a base de dados das unidades de cuidado crítico de um hospital localizado na região central da cidade de São Paulo. O hospital é de iniciativa privada de alta complexidade, com perfil de atendimento de adultos com acometimentos clínicos e cirúrgicos. Para o delineamento metodológico da pesquisa, foi usada a sistematização proposta na ferramenta Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE).

Esta UTI tinha capacidade para atender 44 leitos. Porém, durante as ações de enfrentamento da pandemia de COVID-19, ela aumentou sua capacidade para 89 leitos, totalizando sete UTIs destinadas só a pacientes com COVID-19. Nesta análise, foi usado o recorte temporal das internações ocorridas entre março de 2020 e julho de 2021 (considerado como a primeira onda de casos de infecção de março de 2020 a novembro de 2020) e de dezembro de 2020 a agosto de 2021 para a segunda onda.

A amostra selecionada foi não-probabilística, sendo composta pelas informações de atendimento de todos pacientes internados na unidade durante o período de análise. Os critérios de inclusão foram os critérios de infecção definidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): idade ≥18 anos; diagnóstico ou teste com a reação da transcriptase reversa seguida pela reação em cadeia da polimera-se (RT-PCR) para COVID-19 e presença de IRAS; infecção primária de corrente sanguínea relacionada a cateter venoso central (IPCS-CVC); pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) e infecção de trato urinário relacionada à sonda vesical de demora (ITU-SVD, totalizando 107 pacientes.

Foi criado um banco de dados (planilha Microsoft Excel®) para extrair os dados hospitalares das seguintes fontes: plataformas (a) Epimed Solutions® de gestão de informações clínicas e epidemiológicas hospitalares e (b) Business Intelligence Tableau Software®. Todos dados extraídos através do software de inteligência de dados foram mantidos em anonimato, e os pacientes foram identificados somente por números sequenciais de atendimento. O pesquisador não teve acesso aos prontuários dos pacientes, a qualquer histórico de saúde ou a dado pessoal que pudesse identificá-los.

Foi realizada análise descritiva (média, desvio-padrão, mediana e frequências absolutas e relativas) para as variáveis demográficas e clínicas. O pressuposto de normalidade não foi atendido ao avaliar variáveis numéricas usando o teste de Shapiro-Wilk. Para as associações, foram realizados os testes de qui-quadrado de Pearson e exato de Fisher. Para variáveis numéricas, foram usados o teste não-paramétrico de Kruskall-Wallis e a correlação de Spearman, considerando os coeficientes <0,30 (fraca magnitude), 0,30-0,49 (moderada magnitude) e ≥0,50 (forte magnitude). As análises foram realizadas no software R (v. 4.0.4). Todas análises consideraram o nível de significância de 5%.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do hospital, Certificado de Apresentação de Apreciação Ética: nº 51449121.8.0000.0070, Parecer: nº 4.977.607. Foi concedida isenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) devido ao caráter observacional e epidemiológico da pesquisa.

Resultados

Os resultados do estudo revelaram uma imagem complexa e multifacetada de IRAS em uma UTI durante a primeira e segunda ondas da pandemia de COVID-19. Foram identificados 107 pacientes com ocorrência de IRAS durante a primeira ou segunda ondas de COVID-19. Embora os resultados demográficos não apresentem diferenças estatísticas significantes, foi observada predominância de pacientes com IRAS no sexo masculino na primeira e segunda ondas, menor média de idade e maior tempo médio de permanência na UTI na segunda onda. Predominaram admissões na UTI das unidades de internação na segunda onda (p>0,005) (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição das variáveis demográficas e clínicas de pacientes com infecção relacionada à assistência à saúde na UTI na primeira e segunda ondas de COVID-19

Foram comparados a ocorrência de IRAS, o uso de dispositivos e a densidade de incidência de IRAS na primeira e segunda ondas de COVID. Os resultados apontam um aumento significativo no uso de dispositivos invasivos (ventiladores mecânicos, cateteres centrais e sondas vesicais de demora) e aumento na ocorrência de IRAS da primeira para segunda onda (p<0,05) (Tabela 2).

Tabela 2
Comparação entre ocorrência de infecção relacionada à assistência à saúde e uso de dispositivos invasivos na primeira e segunda ondas da COVID-19

Por meio dos testes de correlação, buscamos também avaliar possíveis associações positivas ou negativas entre ocorrência de IRAS, uso de dispositivos invasivos, densidade de incidência de infecção e indicadores gerenciais da UTI (tais como turnover, absenteísmo, paciente/dia, leito/dia, ocupação e headcount). Os resultados apontaram correlações positivas moderada e forte entre os indicadores paciente/dia, leito/dia e ocupação e moderada correlação negativa com absenteísmo (Tabela 3).

Tabela 3
Correlação entre infecções relacionadas com assistência à saúde, uso de dispositivos invasivos e indicadores gerenciais na pandemia de COVID-19

Discussão

Nas UTIs, as IRAS representaram um importante desafio às organizações, com uma elevada propagação das infecções por COVID, necessidade constante de adequação de processos e desconhecimento da doença. Algumas vezes, os protocolos de segurança se tornaram frágeis para prevenir infecção no-socomial bem como o risco de infecção relacionada ao cuidado.(11)

No presente estudo, foi evidenciado um significativo aumento no uso de dispositivos invasivos da primeira para segunda onda, especialmente em cateter venoso central (CVC)∕dia e ventilação mecânica (VM)/dia. Destacamos que ocorreu um aumento vertiginoso nos números de casos e óbitos no Brasil decorrentes da COVID-19 da primeira para segunda onda. O número de novos casos notificados apresentou um crescimento de 161% entre as ondas. Na primeira onda, foram notificados 7.677 óbitos por semana; na segunda onda, que foi mais longa e letal, foi observado o triplo do número de óbitos (21.141 mortes em uma semana). Nesse contexto, o Brasil vivenciou a falta de insumos essenciais para manter a assistência aos pacientes além da sobrecarga nos sistemas de saúde.(4, 12) A escassez de recursos e o aumento na gravidade dos pacientes também causaram aumento nas taxas de IRAS (IPCS-CVC, PAV e ITU-SVD) tanto no Brasil como em outros países no mundo. Os potenciais fatores que contribuíram para aumentar o risco de IRAS associadas a dispositivos durante a pandemia (incluindo a segunda onda) foram o maior tempo de internação, o aumento de comorbidades, a maior gravidade dos pacientes e períodos mais longos usando dispositivos invasivos.(2, 13, 14, 15, 16, 17)

Em um estudo publicado pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), que buscou identificar o impacto da pandemia da COVID-19 na incidência de IRAS nos hospitais dos EUA, as taxas de uso de todos dispositivos [sonda vesical de demora (SVD), CVC e VM] aumentaram significativamente durante a pandemia.(18)

Nossos resultados mostraram forte correlação positiva entre uso de VM e ocorrência de PAV, bem como em relação ao uso de CVC e ocorrência de IPCS-CVC. Assim, a prevalência de PAV foi significativamente maior da primeira para segunda onda (passando de 11 para 42 casos), seguido de um significativo aumento nos casos de IPCS-CVC (com prevalência de 8 para 28 infecções da primeira para segunda onda). Um estudo para avaliar as características clínicas da IRAS em pacientes graves e críticos com COVID-19 na Itália mostrou que a ocorrência de PAV também foi maior em relação aos casos de IPCS-CVC.(19) Diferentemente, um estudo ecológico realizado em 21 diferentes hospitais brasileiros comparou pacientes adultos internados em UTI no período da segunda onda com aquele no período anterior à pandemia, encontrando maior prevalência de IPCS-CVC, sem diferença entre as incidências de PAV nos dois períodos.(10)

Em pacientes com COVID-19, o aumento no risco de PAV pode estar relacionado a vários fatores incluindo: uso menos rigoroso de estratégias para prevenir infecção padronizadas durante a COVID-19, deficiência imunológica de pacientes associada à doença e terapia, doença prolongada, duração da ventilação mecânica, uso prolongado de sedação, necessidade de ventilação mais frequente, posição prona e maior risco de infarto pulmonar com superinfecção associada.(20) Além disso, alguns estudos observaram um risco aumentado nas condições associadas à ventilação mecânica em pacientes gravemente acometidos pela COVID-19.(19)

Segundo a publicação do CDC, o prolongado tempo de internação do paciente, as comorbidades adicionais, os níveis mais elevados de gravidade, e maior duração no uso de dispositivos invasivos podem ter contribuído para um aumento geral no risco de infecção associada aos dispositivos durante a pandemia em 2020 (período da segunda onda).(18)

Um dado relevante foi o fato que na segunda onda as admissões em UTI geralmente ocorrerem em pacientes das unidades de internação. Possivelmente, eles não apresentavam sinais clínicos justificando internação em UTI quando chegaram ao hospital. Assim, podemos inferir que a deterioração clínica desses pacientes foi mais frequente na segunda onda quando comparada à primeira. Um estudo realizado em um departamento de emergência na índia usou a escala National Early Warning Score 2 para avaliar a deterioração clínica na segunda onda de COVID. Seus dados indicaram que 25,0% dos pacientes necessitaram de monitoramento contínuo e 12,7% deles evoluíram com piora na condição clínica até 24 h após admissão. (21) Um outro estudo foi realizado em uma unidade de pronto atendimento em São Paulo onde a deterioração de pacientes na admissão de emergência foi avaliada pela Modified Early Warning Score, evidenciando maior ocorrência de deterioração clínica nas primeiras 24 h em pacientes com COVID-19.(22)

Com o avanço na propagação das infecções por COVID no Brasil, foi confirmada a necessidade de aumentar muito o número de leitos de UTI em todo território.(23) O hospital destacado no presente estudo precisou dobrar o número de leitos para melhor atender os pacientes que necessitavam de suporte intensivo. Quando avaliamos a correlação entre a ocupação da UTI e a quantidade de leitos-dia com a ocorrência de IRAS durante as ondas de COVID-19, foi destacada uma correlação positiva moderada a forte desses indicadores com IPCS-CVC, PAV e ITU-SVD.

Os estudos explorando a ocorrência de IRAS durante a pandemia são muito limitados, principalmente quando avaliamos a correlação entre eventos com métricas clínicas ou gerenciais. Uma revisão sistemática (2012) destacou que há evidências de que a ocupação hospitalar elevada aumenta a ocorrência de IRAS, principalmente em ocupações acima de 80%.(24) O presente estudo concorda com outra investigação realizada em um hospital na Califórnia. Lá, foi destacada associação positiva entre ocupação de pacientes com COVID-19 e incidência de infecções com aumento nas infecções de corrente sanguínea (ICS) por Staphyloccocus aureus resistente à Meticilina.(25)

Esperamos que esta pesquisa possa contribuir para a elaboração de políticas públicas e organizacionais, promovendo não só a segurança dos pacientes mas também considerando o perfil dos pacientes com COVID-19 e suas especificidades clínicas, ampliando o conhecimento sobre os impactos na segurança dos pacientes durante a pandemia e buscando melhorar o enfrentamento de futuras situações de calamidade pública. Como limitação de estudo, destacamos a característica unicêntrica da pesquisa que impede a generalização para outros perfis de pacientes e unidades de cuidados críticos.

Conclusão

Os achados permitiram identificar o aumento das infecções e uso de dispositivos invasivos da primeira para a segunda ondas da COVID-19 e correlação positiva no aumento de infecções e leitos de UTI, internações e ocupação. O manejo de pacientes críticos com risco aumentado para infecções deve seguir as medidas padronizadas e ideias para prevenir e controlar as infecções relacionadas à assistência à saúde. A prevalência dessas infecções pode ser um evento adverso relevante mesmo em instituições com processos de qualidade e práticas de controle de infecção consolidadas. A incidência de infecções relacionadas à assistência à saúde pode ser minimizada otimizando o uso de dispositivos tais como ventiladores mecânicos, sonda vesicais de demora e cateteres venosos e gestão de recursos físicos e humanos alicerçado na qualidade e segurança do paciente.

Agradecimentos

Agradecemos ao Hospital Alemão Oswaldo Cruz ao suporte tecnológicos e epidemiológico oferecido durante o processo de coleta de dados.

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Editado por

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Mar 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    02 Dez 2023
  • Aceito
    21 Out 2024
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